Prestes a completar um mês de governo, vai ficando claro que o governador Carlos Moisés da Silva (PSL) mantém um número permanentemente na cabeça: 2.644.179. Esse é o histórico número de votos que recebeu dos catarinenses no segundo turno das eleições de outubro do ano passado, equivalentes a impressionantes 71% dos votos válidos. É seu grande escudo às pressões políticas e partidárias que enfrentará com mais força a partir de fevereiro, com o fim do recesso parlamentar.

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Nesta semana, em entrevista à Folha de S. Paulo, o governador catarinense se referiu pelo menos quatro vezes aos 71%, sempre nesse contexto. Reproduzo uma frase de Moisés ao jornal paulistano que resume essa ideia:

– Eu costumo dizer que tenho 71% de gordura para queimar. E eu estou disposto a queimar toda essa gordura para entregar meus objetivos.

Entre os objetivos citados por Moisés, a redução de 922 cargos de confiança e redução de R$ 750 milhões em isenções fiscais. Medidas que sofrerão reações inevitáveis. O governador não tem experiência política anterior e conta com um partido ainda em formação, apesar de ter elegido seis deputados estaduais e quatro federais.

Seu escudo é mesmo a força do respaldo da maioria absoluta da população catarinense. Está certo em utilizar esse capital para governar – pelo menos enquanto não consegue formar uma maioria parlamentar. Estará mais certo ainda se souber conciliar ambos os elementos.

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Na conversa com a Folha de S. Paulo, Moisés colocou panos quentes no princípio de crise interna do PSL nas primeiras semanas de janeiro e nas exonerações dos nomes indicados para o governo que tiveram as posições ideológicas torpedeadas pela ala mais extrema dos pesselistas eleitos.

Sobre a disputa no PSL entre a maioria da bancada federal e o presidente estadual Lucas Esmeraldino, disse que ela poderia ter sido resolvida internamente, que faltou diálogo. Creditou à falta de experiência, mas minimizou efeitos.

A desistência de contar com Tiago Davi na Santur e Edenice Fraga na Coordenadoria de Igualdade Racial – criticados por posições anti-Bolsonaro durante a campanha eleitoral -, Moisés definiu como situações que escaparam “do nosso crivo” durante o processo de seleção dos candidatos a integrar o governo.

Novamente usou os 71% como escudo.

– Isso é até um ato de justiça. 71% da população diz: eu não vou votar na esquerda. No mínimo, se não tiver filiação partidária, que tenha os ideais alinhados com o que a gente acredita.

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Na entrevista, Moisés diz textualmente não ser uma pessoa de extrema-direita. Justificou de forma técnica o veto ao projeto que permitia o uso do nome social e3 transexuais e travestis em serviços do governo do Estado e admitiu que poderia fazer um decreto regulamentando a medida – o que fez esta semana.

O governador parece não gostar da palavra política, mas tem revelado habilidade nesta seara. Apesar das baixas de Davi e Edenice, conseguiu blindar o governo da briga interna do PSL e vem tocando com tranquilidade esses primeiros dias. Vai terminando janeiro com a gordura quase intacta.