Definida aos poucos, a reforma do secretariado do governador Carlos Moisés (PSL) indica que a tutela política de bancadas da Assembleia Legislativa em nome de governabilidade tem limites e que, ao fim, a caneta ainda é do comandante eleito em 2018. Esse limite fica claro no convite ao ex-prefeito chapecoense Luciano Buligon (PSL) para assumir a cobiçada Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável. Um convite pessoal, do governador ao ex-prefeito, ignorando as recentes composições políticas.

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Formatada no atual modelo no segundo mandato de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), em 2007, a pasta de Desenvolvimento Econômico Sustentável costuma atrair nomes da política por sua intensa relação com o setor produtivo e por ser uma usina de boas notícias. Ganhou destaque no primeiro governo de Raimundo Colombo (PSD), quando sob comando do então deputado federal Paulo Bornhausen (hoje no Podemos) levou adiante iniciativas como o programa Juro Zero, o projeto dos centros de inovação e as negociações para instalação da fábrica da BMW em Santa Catarina. No segundo mandato do pessedista, Carlos Chiodini (MDB) manteve a linha e ganhou dimensão para alçar voo da Assembleia Legislativa para a Câmara dos Deputados.

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Eleito à bordo do bolsonarismo e do discurso da nova política, Moisés usou a lógica antiga quando deu o comando da pasta ao aliado de chapa Lucas Esmeraldino – derrotado por poucos votos na disputa pelo Senado em 2018. Não deu liga – faltou afinidade entre o ex-dirigente do PSL e os temas da pasta. Esmeraldino foi alocado para a Secretaria de Articulação Nacional, em Brasília, e o comando da pasta ficou momentaneamente fora das mãos de políticos. Até agora.

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Fiz esse histórico para mostrar o peso de uma pasta que anda longe dos holofotes no governo Moisés e que era altamente cobiçada neste momento de conciliação entre o governador e as bancadas estaduais do MDB, do PP e (mais discretamente) do PSD, entre outras. Os emedebistas tinham interesse na secretaria – e só não a tiveram porque o deputado estadual Valdir Cobalchini recusou o convite de Moisés.

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Havia uma construção em andamento para trazer um nome de peso do Norte do Estado, com efeitos políticos consideráveis no tabuleiro estadual. Essa construção parou na caneta de Moisés e na intenção de trazer Buligon para o governo, algo que estava em vista desde a filiação do ex-prefeito ao partido, em 2020. O convite feito a Buligon mostra aos novos aliados que Moisés ainda é o governador e que há limites na abertura do governo aos ditames da nova base governista na Assembleia.

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O curioso é a reação da assunção de Buligon ao secretariado na política chapecoense. Eleito em 2020, João Rodrigues (PSD) é próximo do deputado federal afastado Júlio Garcia (PSD) e do secretário da Casa Civil, Eron Giordani. É aliado também do novo secretário de Agricultura, Altair Silva (Progressistas). Nenhum deles tem motivos para querer Buligon de volta ao palco. A conferir se isso tem peso para afetar este momento de conciliação iniciado após o arquivamento do primeiro processo de impeachment de Moisés, em novembro do ano passado.

Para Buligon, assumir a secretaria é a chance de manter em pé seu projeto político futuro, abalado com após o fracasso do apoio à candidatura a prefeito de Leonardo Granzotto (Patriota), quarto colocado na disputa. Na época, a relação com Moisés balançou quando o PSL estadual interveio no diretório de Chapecó para colocar o partido na aliança de João Rodrigues. A justificativa era garantir o voto de Altair Silva contra o impeachment. A culpa pela desastrada articulação ficou na conta do deputado federal Fábio Schiochet, presidente estadual do PSL.

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