Muitas vezes acusado de pouco ouvir e de não compartilhar a tomada de decisões, o governador Carlos Moisés (PSL) fez o oposto em seus anúncios desta segunda-feira: ele compartilhou com os mais de 7 milhões de catarinenses e – especialmente – com os 295 prefeitos a decisão de manter ou não o isolamento social como forma de combate à propagação do coronavírus no Estado.

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O governador anunciou a permissão para o retorno de cultos religiosos presenciais já nesta segunda-feira e a publicação na terça-feira das regras para a reabertura de shoppings, centros comerciais, restaurantes e academias. Também serão permitidos os exercícios ao ar livre em praças, parques, praias. Sem aglomerações, é claro, e com regras que distanciem as pessoas. E máscara – o símbolo deste novo normal que passaremos a viver a partir de quarta-feira.

Na prática, ainda existem duas medidas que garantem a existência de algum isolamento social: continuam proibidos o transporte coletivo regular e as aulas. Sem isso, só uma ampla convicção da sociedade sobre a necessidade de manter a quarentena garantiria que não vamos viver uma vida normal – entre aspas e coberta por máscaras.

O próprio Moisés, ao final da entrevista coletiva desta segunda-feira, conclamou os catarinenses a não afrouxarem a conduta pessoal, a continuarem saindo às ruas apenas se essencial. Pediu ajuda explicitamente.

– Isso só vai funcionar se você nos ajudar – afirmou o governador, deixando claro que as regras podem voltar a endurecer se não houver colaboração da população.

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Na prática, o que se vê é que Moisés cedeu às pressões – política, econômica e de uma parcela cada vez maior da população que já começava a sair da quarentena por conta própria. Cada afrouxamento de restrições foi acompanhado do aumento do volume de pessoas nas ruas. No início da tarde desta segunda-feira, apenas as máscaras e os restaurantes fechados lembravam que vivemos dias de pandemia.

Por mais que o governador e o secretário da Saúde, Hélton Zeferino, garantam que o afrouxamento das restrições tem como base os resultados alcançados por sua adoção nas últimas semanas, fica a nítida sensação de que o governo do Estado não resistiu à pressão. Na última semana, alguns prefeitos tomaram medidas isoladas de afrouxamento, especialmente liberando uso das praias.

Moisés decidiu, naquele momento, escolher as lutas – deixando que o Ministério Público Estadual defendesse o decreto junto à Justiça em ações tomadas pelos prefeitos de Balneário Camboriú, Brusque e Xaxim. Agora, cede mais terreno aos prefeitos. Eles também sentiam a pressão para contrariar o governador e passarão a ter em suas mãos a decisão sobre as restrições – com o bônus e o ônus que isso representa. Com prefeitos reclamando, empresários pressionando, bolsonaristas buzinando nas ruas e o presidente da República conclamando a volta às ruas, o governador acabou embretado. É tanta gente querendo pagar para ver que Moisés cedeu. Esperamos que a fatura seja leve.