— Eu sou comandante Moisés, o governador do Bolsonaro em Santa Catarina.
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O leitor deve reconhecer a frase, um já histórico exemplo de como sete segundos de horário eleitoral podem ser plenamente efetivos. Carlos Moisés da Silva apresentava-se, deixava insinuada sua origem militar e enfatizava ser o candidato a governador do partido de Jair Bolsonaro (PSL) – seu até então único ativo eleitoral.
Eleito com fabulosos 75% dos votos, o comandante Moisés virou governador Carlos Moisés e os catarinenses passaram a conhecê-lo governando. Nas últimas semanas, o pesselista comprou uma briga com agronegócio sobre a taxação dos defensivos agrícolas – que tem chamado de venenos. Moisés quer acabar com o incentivo fiscal que zera as alíquotas de ICMS dos agrotóxicos.
A medida está na contramão do próprio governo do presidente Jair Bolsonaro, que tem afrouxado as regras para liberação dos defensivos – sob críticas dos ambientalistas e partidos de esquerda. Os mesmos que, com maior ou menor timidez, tem saído em defesa do governador catarinense.
A imprensa nacional não perdeu tempo em marcar a diferença entre o presidente e governador – e a entrevista de Moisés à Folha de S. Paulo, veículo que Bolsonaro hostiliza dia sim, dia sim, foi o ponto alto desse contraponto. Essa postura está gerando reações nos núcleos bolsonaristas catarinenses – aquela turma que se engajou para que o 17 vencesse a eleição de cabo a rabo no Estado ano passado.
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Aos poucos, a reação também ecoa entre eleitos do PSL-SC. Semana passada, a deputada estadual Ana Campagnolo fez a defesa dos agrotóxicos e disse que entre Bolsonaro e Moisés, não tem dúvidas sobre com quem ficar. Foi seguida pelo colega Jessé Lopes, ambos são o que se pode chamar de ala ideológica da bancada pesselista na Alesc. No Centro Administrativo já há quem não contabilize ambos na base de apoio ao governo.
Em Brasília, a deputada federal Caroline de Toni, que tem base no Oeste do Estado, foi à tribuna criticar o aumento de impostos. Disse que “essa tributação verde é uma coisa completamente de esquerda, sem fundamento científico, que tende a acabar com o agronegócio”. Em Florianópolis, a vice-governadora Daniela Reineher saiu de seu silêncio decorativo para defender, em nota, que com a taxação dos agrotóxicos “a competitividade da produção catarinense ficaria comprometida e perderíamos mercados arduamente conquistados”. Não chega a ser um verba volant, scripta manent – mas é um movimento a ser observado.