Talvez o maior desafio que o governador eleito Carlos Moisés da Silva (PSL) vá enfrentar a partir de janeiro seja gestão de expectativa. Eleito com 71% dos votos válidos com a promessa de despartidarizar a máquina pública e fazer uma profunda reforma administrativa, o comandante tem condições quase inéditas na história política do Estado para tirar as promessas do discurso. Mas terá de lidar com os humores de quem tem pressa para ver as mudanças acontecerem.

Continua depois da publicidade

Neste momento, por exemplo, em que estamos prestes a completar três semanas do segundo turno das eleições, há um nítido exagero nas cobranças que começam a ser feitas sobre os nomes que vão compor o novo governo. Nessas horas, é sempre bom voltar no tempo e fazer as comparações.

Em 2010, Raimundo Colombo (ainda no DEM) foi eleito em primeiro turno no dia 3 de outubro. A transição foi deflagrada de fato apenas no dia 15 de novembro, quando o lageano confirmou que o professor Ubiratan Rezende seria seu secretário da Fazenda e faria um estudo sobre mudanças na máquina do Estado. O que fez Colombo entre o longo um mês e meio entre a vitória e esse começo de transição? Durante o segundo turno, alegou que a prioridade era ajudar à campanha do então presidenciável José Serra (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT). Depois, uns dias de férias e um curso na Espanha.

O secretariado de Colombo só foi anunciado, 12 dos 15 nomes, em 6 de dezembro daquele ano, através do Twitter. A conclusão da montagem da equipe, incluindo secretários regionais, só em abril de 2011, já com o governo em andamento. Antecessor, o reeleito Luiz Henrique da Silveira (PMDB), em transição para si mesmo, também anunciou o primeiro escalão em dezembro e os regionais em abril.

Olhando assim, com uma máquina inteira para preencher e uma discreta equipe técnica nomeada para fazer uma transição de governo que tem jeito de diagnóstico sobre a máquina pública, pode-se dizer que Moisés não está nem mais lento e nem mais rápido do que seus antecessores. Mas terá sobre si essa gestão de expectativa sobre quem espera pelas mudanças profundas prometidas na urna. É bom que se acostume.

Continua depois da publicidade

Outro fator que pressiona a transição de Moisés é a comparação com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), beneficiado na mesma onda de mudanças – e fator propulsor da candidatura estadual. Boa parte de sua equipe vem sendo conhecida desde o resultado na urna. Seu fiador econômico, Paulo Guedes ainda antes. Seu fiador moral, Sérgio Moro, logo depois.

Pré-candidato desde 2015, Bolsonaro já tinha uma ideia do que queria fazer quando assumisse – sem juízos de valor aqui. Por trás, contava com suporte nas Forças Armadas, uma instituição – também sem juízo de valor aqui – que conhece as dimensões do país. Moisés tem seus suportes, mas não nesse peso. Está aprendendo enquanto joga. Por enquanto, joga na velocidade certa.

 

Leia também:

Raquel Dodge pede mais 60 dias para investigação sobre Aécio