Passamos boa parte de 2019 discutindo como o governador Carlos Moisés (PSL) conseguiria construir uma base aliada na Assembleia Legislativa sem usar as ferramentas da chamada velha política – troca de apoio parlamentar por cargos na máquina pública, convênios para repassar dinheiro às bases e outras traquinagens. O governador da nova política conseguiu encerrar o ano de estreia na política com o apoio de metade dos deputados estaduais e sem maiores sustos em votações importantes.

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Ao fazer o balanço do primeiro ano de mandato, ressaltou esse ponto. Construíra uma base sem dar cargos, para espanto de quem acreditava impossível e curiosidade de quem tenta entender os meandros da nova política. Moisés contava com o maior partido do parlamento, o MDB, e aproveitava-se da fragilidade das demais bancadas para atrair apoios pontuais. A principal moeda, a parceria eleitoral nas bases dos parlamentares nas eleições municipais deste ano.

Passado o Carnaval, com o início efetivo do ano político, o roteiro da construção da base de Moisés parece passar por sobressaltos. Antes mesmo da folia, o governador teve dificuldade em conseguir entre seus aliados um nome para ser líder do governo. Tentou no MDB, com Luiz Fernando Vampiro e Valdir Cobalchini, mas o partido – não a bancada – vetou o oficialização desse casamento entre partido e governo. Para sustar a narrativa de que não ninguém queria o posto, apelou à fiel Paulinha (PDT), que aceitou a liderança – em termos que desagradaram o PDT, mas isso é outra história.

Na semana que passou, o governo viu ameaçado seu bunker na Assembleia Legislativa, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde formou maioria que impediu que cascas de banana da oposição chegassem ao plenário. Viu também dois requerimentos desconfortáveis serem aprovados sem resistência: a convocação do secretário de Administração, Jorge Tasca, para explicar a polêmica equiparação salarial dos procuradores do Estado com os da Alesc, tema que motivou o engavetado pedido de impeachment contra Moisés; o pedido do deputado Laércio Schuster (PSB) para que o Tribunal de Contas faça uma auditoria sobre os repasses do governo aos hospitais filantrópicos. Temas sensíveis.

Naquela mesma noite, terça-feira, apenas 11 deputados compareceram ao jantar promovido pelo governador para a bancada. Entre os ausentes, sete emedebistas. É bom que Moisés e sua articulação política leiam os sinais.

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Texto publicado na edição de 7/3/2020 das revistas DC, AN e Santa.