O novo momento do governo Carlos Moisés (PSL) começou a se desenhar no dia em que foi afastado provisoriamente do cargo por decisão do Tribunal de Julgamento do Impeachment que analisava o hoje sepultado processo da equiparação salarial dos procuradores. Ali, perguntado sobre o que faria enquanto o Estado estivesse interinamente nas mãos da vice Daniela Reinehr, Moisés disse que se dedicaria a fazer política. Em silêncio, foi o que fez.
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Os movimentos de janeiro de 2021 trazem a confirmação dos indicativos deixados em 27 de novembro de 2020, quando a absolvição no Tribunal do Impeachment devolveu Moisés ao comando do Estado. Naquele dia a mudança mais emblemática era a nomeação de Eron Giordani, até então braço direito do presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (PSD). Ali já estava desenhada a fórmula do novo momento do governo Moisés: para sobreviver, a chamada nova política teria que abraçar a tradição.
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Por tradição, em matéria de política catarinense, falamos de MDB, PP e PSD. São os partidos (ou descendentes deles) que governaram o Estado desde a implantação do regime militar em 1964 até 2018. Santa Catarina dificilmente aceita novos personagens no clube do poder. Moisés venceu a eleição a bordo da onda que elegeu Jair Bolsonaro, pegou um atalho e chegou ao governo estadual na esteira de uma sensação de insatisfação generalizada com a classe política. Em nome dela, tentou governar com frágil respaldo parlamentar e sem alianças. Não deu certo, o governo não caiu por detalhe.
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Neste momento, o PP já está confirmado no governo com os deputados estaduais Altair Silva na Secretaria de Agricultura e José Milton Scheffer na liderança de governo. O MDB ainda debate internamente o ingresso, mas tudo indica que deve participar. O PSD, oficialmente, diz que não. Mas Eron Giordani ainda age como pessedista e continua ligado a Júlio Garcia. As mudanças no secretariado devem continuar e deixar o governo Moisés um pouco mais parecido com os dos antecessores. O segundo impeachment, o do caso dos respiradores, tem tudo para refluir por falta de interesse do parlamento em continuar esticando essa corda.
No final das contas, Moisés ganhou fôlego para completar um mandato que lhe caiu no colo, mas agora nos termos da política – nem nova, nem velha; nem boa, nem má. Política é conversa, é composição. O resto é barulho de rede social. Não é hora de cobrar coerência de discurso entre o Moisés eleito e o Moisés ressurgido. A coerência, irmã da teimosia, seria manter conflagrada a relação entre Executivo e Legislativo. O caminho para fim prematuro de um governo. É claro que o mesmo eleitor que rejeitou a política tradicional em 2018 e teve uma recaída em 2020 vai julgar as escolhas do governo e do governador Moisés. Mas, para isso, ele precisa governar.
A vez de Altair

A posse de Altair Silva (PP) na Secretaria de Agricultura, na segunda-feira, é a deflagração do novo momento do governo na prática, com a presença de deputados estaduais e partidos tradicionais no colegiado. Para o deputado pepista também é um marco importante. Em seu primeiro mandato como titular na Alesc, depois de bater na trave nas eleições de 2010 e 2014, Altair ganha um espaço de projeção para consolidar sua liderança no Oeste do Estado. Terá mais visibilidade.
Polarização do PP
Embora o senador Esperidião Amin tenha avalizado a decisão da maioria da bancada do PP na Alesc de participar do governo Moisés, parece claro que está se reorganizando a polarização interna do partido. Até a eleição de 2018, era possível distinguir claramente os movimentos do senador dos da bancada – excluído, claro, João Amin. A vitória tripla dos Amin – Esperidião senador, Angela deputada federal e João estadual em 2018 e as derrotas de Silvio Dreveck e Valmir Comin na busca pelas reeleições desequilibraram o jogo interno. Vitaminado pelo governo estadual, o PP-Alesc ganha fôlego.
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A decisão de Vampiro
O deputado estadual Luiz Fernando Vampiro (MDB) decide no início da semana se aceita o convite feito pessoalmente pelo governador Carlos Moisés para assumir a Secretaria de Educação. Ele vai levar o tema para a bancada do MDB na Alesc e também pediu uma conversa com o deputado federal Celso Maldaner, presidente estadual do partido. Um dado curioso: Vampiro chegou a rejeitar o convite assim que foi feito por Moisés, mas foi convencido pelo colega Romildo Titon, também presente no encontro com o governador, a pensar com mais calma.
Só pelo registro

No último dia 5, a Assembleia Legislativa ganhou uma deputada estadual que dificilmente conseguirá chamar atenção. Tati Teixeira assumiu a vaga de Maurício Eskudlark (PL), em licença desde dezembro – quando cedeu espaço para o também suplente Renato Pike (PL). Ex-vereadora em Criciúma, ela ficou com a quarta suplência da coligação que reunia o PL e o Cidadania, seu partido na época da eleição. Hoje, Tati está no MDB. Seus dias como deputada terminam junto com o recesso do parlamento, em fevereiro. Ou seja: valeu apenas a pela fotografia.
De olho nos MDBs
Os movimentos pela disputa da presidência estadual do MDB trazem até o momento os mesmos personagens da eleição de 2019, quando o deputado federal Celso Maldaner foi escolhido. Na época, ele venceu o senador Dário Berger no diretório. O deputado federal Carlos Chiodini também articulou, mas desistiu antes. São os três nomes que se articulam até o momento. A dúvida no ar – e possível novidade – é a participação da bancada estadual no processo. O grupo de nove deputados estaduais mostrou unidade nas votações do impeachment e conseguiu emplacar a presidência da Alesc em divisão de mandato de Mauro de Nadal e Moacir Sopelsa. Usará essa união para tentar comandar o partido também?
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