Uma vez escrevi aqui, até como provocação, que Jair Bolsonaro (PSL) é uma ideia – parafraseando a forma como o ex-presidente Lula (PT) se definiu em discurso antes de ser preso e levado a Curitiba. De formas diferentes, ambos são os únicos personagens desta eleição que têm esse poder de despertar amores e ódios e mobilizar times de militantes dispostos a defender cada palavra que digam ou silenciem.
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Aqui em Santa Catarina, revelam as pesquisas, o time de Bolsonaro é o que mais engaja. O militar reformado tem 40% das intenções de voto, revelou o Ibope. Nessa hora, a diferença da ideia Lula para a ideia Bolsonaro fica muito clara. O petista é protagonista do debate eleitoral há mais de 40 anos e construiu um dos maiores partidos do país. Sabemos quem está com o PT e quem não está. Lula é uma ideia com donos.
Deputado federal de muitos mandatos, Bolsonaro sempre foi uma figura isolada na Câmara e nos diversos partidos em que atuou. Catapultado pelas redes sociais como um defensor da ordem e do conservadorismo nos costumes, filiado ao minúsculo PSL em pleno ano eleitoral, Bolsonaro é uma ideia sem donos. Por isso, é tão difícil mapear quem pode se beneficiar da onda que provoca no país e, acima da média, em Santa Catarina.
Um dos nomes mais próximos de Bolsonaro no Estado sempre foi o deputado federal Rogério Peninha (MDB) – que há pelo menos dois anos vem dizendo que vota no parlamentar para a presidência. Nesta quinta-feira, ele mostra o tamanho dessa afinidade. Em um almoço em Ibirama, ele reúne 32 prefeitos e vices do partido, além 27 presidentes municipais, para declarar apoio a Bolsonaro. O encontro ganha peso maior pela presença de toda a chapa majoritária. Jorginho Mello (PR), candidato ao Senado, é próximo dos bolsonaristas, mas o colega de chapa Paulo Bauer (PSDB) tem o tucano Geraldo Alckmin como nome à presidência, assim como o postulante ao governo Mauro Mariani (MDB) continua dizendo que seu voto é de Henrique Meirelles (MDB). Mesmo assim, ambos não se esquivaram do encontro, muito pelo contrário.
No outro lado da trincheira, Gelson Merisio anunciou na manhã desta quinta-feira que votará em Bolsonaro. A decisão havia sido tomada há alguns dias, mas o pessedista ainda costurava dentro da aliança que montou a melhor forma de fazer o anúncio. Semana passada, o movimento foi iniciado com a declaração do aliado Luciano Buligon (PSB), prefeito de Chapecó. Inicialmente, Merisio imaginava abrir voto apenas no segundo turno, mas vinha sendo cobrado pelo eleitor. O último Ibope mostrou que 55% dos eleitores que declaram voto no pessedista estão com Bolsonaro – percentual superior aos 45% de bolsonaristas entre os eleitores de Mariani. Em vídeo distribuído pela assessoria da campanha, Merisio diz que "neste momento fundamental que atravessa o nosso país, não podemos nos omitir" e que "ou olhamos para trás ou damos uma chance à mudança". Afirma também que a posição é "uma questão de coerência com o que deseja Santa Catarina".
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Enquanto isso, O PSL – partido que detêm o monopólio formal da onda Bolsonaro em SC – ainda tenta capitalizar isso para as candidaturas de Comandante Moisés ao governo e de Lucas Esmeraldino ao Senado. Talvez só depois de abertas as urnas a gente saiba quem melhor se apropriou da ideia Bolsonaro entre os catarinenses.