Criado para dar maior legitimidade aos eleitos, o segundo turno é aplicado desde as eleições de 1989. Em Santa Catarina, até este atual embate entre Gelson Merisio (PSD) e Comandante Moisés (PSL), os eleitores do Estado tinham definido em primeiro turno a maiorias das disputas – quatro das sete eleições.
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Eleições 2018: acompanhe a apuração do segundo turno em tempo real
Nas três vezes que os catarinenses tiveram que votar duas vezes, em duas o segundo colocado no primeiro turno venceu. E em todas, a vitória ficou com o candidato do PMDB, o grande ausente da disputa deste ano. A lógica política do país e do Estado mudou com a onda Bolsonaro e a ascenção das candidaturas do PSL, turbinadas por um desejo de mandar a classe política para fora da política. Segundo colocado no primeiro turno, Moisés encarna esse sentimento e os primeiros números internos das campanhas indicam que hoje Santa Catarina viveria uma virada. Isso fica claro com o tom adotado por Merisio desde sexta-feira, quando voltaram os programas eleitorais.
O pessedista não tem tempo a perder e utiliza todas as armas que tem a mão. Continua citando Bolsonaro, como faz desde a reta final primeiro turno. Promete não aceitar indicações políticas para cargos no governo, garante que nenhum dos 40 deputados eleitos será secretário. Apela para a experiência para realizar as mudanças, ressalta a trajetória em diversos cargos, diz não ser “apenas um número” – referência ao 17 que Moisés compartilha com Bolsonaro.
Para mostrar que tem equipe pronta para governar, Merisio faz a arriscada jogada de anunciar desde já quem serão seus secretários. Normalmente essa postura é evitada por candidatos com a desculpa de que parece arrogância antecipar um governo ainda não eleito, mas a verdade é que com isso evitam que uma devassa sobre a ficha dos pré-indicados traga dissabores à campanha.
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Merisio também arrisca ao trazer para o horário eleitoral a aposentadoria de Moisés como coronel do Corpo de Bombeiros aos 48 anos, com salário na faixa dos R$ 26 mil. Não há irregularidade no benefício, mas há uma regra extremamente questionável em favor dos oficiais militares do Estado. A eficácia de questionar a moralidade de um benefício legal ainda precisa ser verificada.
Por outra linha, encampada recentemente pelo senador eleito Esperidião Amin (PP), é de jogar sobre o PSL o desgaste político do MDB. O partido liberou os filiados, mas nomes importantes como o governador Eduardo Pinho Moreira e o deputado federal reeleito Rogério Peninha tem declarado apoio ao comandante. Amin lembra a passagem de Moisés pela pasta de Justiça e Cidadania, feudo emedebista, para insinuar que “existe uma intimidade oculta que deve ser oculta até de Jair Bolsonaro, que eu conheço há 27 anos e ele conhece o MDB”.
Na entrevista à NSC Comunicação, Moisés disse que o apoio de emedebistas é gratuito e que não negociou cargos. Diante das armas de Merisio, a campanha do PSL decidiu não contra-atacar. É a postura de quem está na frente.