— O que nós queremos é um país economicamente próspero, socialmente justo, politicamente democrático e ambientalmente sustentável. Eu sei que muita gente discorda de mim, mas ninguém aqui nesta sala discorda disso. É assim que a gente faz alianças pontuais: em cima de princípios e valores.

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Foi basicamente assim que a presidenciável Marina Silva (Rede) apresentou-se ao PIB de Santa Catarina. Na manhã de ontem, na Fiesc, ela foi sabatinada por representantes do Conselho das Federações Empresariais de Santa Catarina (Cofem) – órgão que congrega as entidades da indústria, do comércio, da agricultura, das associações empresariais, dos lojistas e das micro e pequenas empresas. Em pouco mais de meia-hora de fala, em tom amistoso, Marina buscou focar nas convergências entre a produção e sua formação ambientalista.

A presidenciável diz que o Brasil se acostumou a polarizar as questões e uma dessas falsas dualidades é a que opõe economia e ecologia. Citou exemplos que colheu no exterior sobre aumento de produtividade, defendeu que o Brasil se prepare para um mercado externo cada vez mais exigente quanto a certificações ambientais na hora de comprar produtos.

Música aos ouvidos de plateia, defendeu investimentos em infraestrutura, reformas tributária, previdenciária, política. Disse que não revogaria a reforma trabalhista, embora proponha uma revisão e critique a pressa do governo de Michel Temer (MDB) na implantação das medidas. Afirmou não ter dogma contra privatizações e prometeu tratar o tema sem a caricatura da disputa de estatistas contra privatistas que marca as eleições presidenciais desde os anos 1990.

— Eu terei apenas quatro anos e acho que é de bom tamanho. Não consigo imaginar o nível de altruísmo de uma pessoa que vai para a Presidência da República para servir e que queira ser presidente duas vezes. Uma vez já é muito sacrifício — disse.

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Marina mostrou a desenvoltura de quem concorreu duas vezes à Presidência e em ambas alcançou a casa dos 20 milhões de votos – em torno de 20% do eleitorado. Essa – e o terceiro lugar. Nas duas vezes, defendeu o fim da polarização entre PT e PSDB, com o discurso de assumir os legados positivos de ambos e reformular a forma de conquistar e manter apoio parlamentar.

Nesta terceira tentativa, a polarização que combatia está esfacelada. Pré-candidato petista, o ex-presidente Lula está preso. O tucano Geraldo Alckmin não cresce nas pesquisas e aposta tudo na conquista dos partidos do Centrão como alavanca eleitoral – mesmo que o preço posterior seja conhecido de antemão. Com um pequeno partido e oito segundos no horário eleitoral, Marina aparece em segundo lugar nas pesquisas sem Lula, mas corre o risco de virar uma candidata fantasma quando o jogo começar. Lá em 2010, ela citava o escritor francês Vitor Hugo ao dizer que “nada resiste a uma ideia cujo tempo chegou”. Em meio à cacofonia pré-eleitoral que vivemos, com Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) em uma competição particular de testosterona, resta saber se o tempo da conciliadora Marina não passou antes de chegar.

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