Lula nunca foi unanimidade entre os catarinenses. Terceiro colocado em 1989, derrotado por tucanos em 1994, 1998 e 2006, o líder petista venceu em Santa Catarina apenas em 2002 nas cinco vezes em que disputou a Presidência da República. Houve somente uma tarde em que o ex-presidente foi unânime por aqui, em 7 de maio de 2008.

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Foi aquele dia que a Assembleia Legislativa aprovou, sem votos contrários, a agora polêmica concessão do título de Cidadão Catarinense a Lula. O pedido recebeu pareceres favoráveis nas comissões temáticas, dados por Gelson Merisio (ainda no DEM) e José Natal (ainda no PSDB). Na tribuna, os deputados petistas louvaram seu líder, mas foram acompanhados no elogios por Manoel Mota (PMDB), Herneus de Nadal (PMDB), Nilson Gonçalves (PSDB) e Sérgio Grando (PPS). Fora restrições pontuais, ninguém questionou o título. Naquela época, Lula batia recordes de popularidade e se preparava para usar esse cacife para eleger Dilma Rousseff como sucessora.

Passaram-se 10 anos e aquele Lula que nunca foi unânime entre os catarinenses, tirando aquela tarde, volta ao Estado em uma caravana que tenta manter acesa a chama do líder político condenado na Justiça Comum. Ao contrário dos roteiros pelo Nordeste e Sudeste, o Sul tem apresentado dificuldades para o on the road do petista. Por onde passou, enfrentou protestos. Era um desafio previsível por encarar a região onde se concentra a maior parte do eleitor hostil a ele e ao PT.

Os comícios previsto para este sábado, em Florianópolis pela manhã e Chapecó no final da tarde, terão como contrapontos manifestações pela prisão do presidente – o que deve ser impulsionado pela decisão do Supremo de não decidir sobre o habeas corpus solicitado pelo presidente, mas mantê-lo livre da eventual prisão até dia 4 de abril.

Na sua passagem pelo Sul e por Santa Catarina, Lula tenta reacender uma militância que assistiu tímida o ocaso do PT no poder e só voltou a se manifestar após o impeachment de Dilma. Nestes 10 anos, o principal partido de esquerda do país encolheu no Estado – em prefeituras, em vagas no Legislativo, em força política. O título que recebeu em maio de 2008, agora é alvo de manifestações contrárias.

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Presidente da Assembleia, Aldo Schneider (PMDB) foi bombardeado de críticas por ter autorizado a entrega da homenagem fora do ambiente da Assembleia, em algum dos comícios – a pedido da deputada Ana Paula Lima (PT). O peemedebista foi pressionado a retroceder, mas manteve a posição. Mais um ingrediente no explosivo caldeirão desta passagem de Lula por Santa Catarina, que tem tudo para ser histórica – nisso petistas e antipetistas que lerem este texto devem concordar.