A liberdade, escreveu Cecília Meirelles, não há quem explique, não há quem entenda. Duas liberdades marcaram a política nacional na semana que passou – e são três que se colocarmos a catarinense também em foco. Elas terão efeitos nas urnas das eleições municipais do ano que vem e nos projetos para 2022.
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Uma delas é a liberdade do ex-presidente Lula (PT), definida dia 8 de novembro, dia seguinte à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que volta a ser necessário o trânsito em julgado para o início do cumprimento das penas de julgamento, não mais apenas a segunda instância. O líder petista voltou à cena com comícios em Curitiba e São Bernardo do Campo (SP) que acenderam a esquerda em torno do líder que passou 580 dias encarcerado na capital paranaense como um símbolo dúbio: para uns, um preso político, para outros, o exemplo máximo de que a lei é para todos.
A dúvida que será respondida nos próximos meses é como Lula solto afeta o campo da esquerda. Enquanto esteve preso, o PT cedeu à ideia de integrar frentes não necessariamente lideradas por ele. Florianópolis é um exemplo claro desse tipo de construção, que provavelmente terá Elson Pereira (PSOL) na cabeça de chapa. O ex-presidente deu sinais de avançar nessa proposta de frentes, veremos na prática. Também veremos a reação à presença física de Lula no cenário – Ciro Gomes (PDT) mantém, até agora, a tática de se afastar de sua figura, nem que seja aos pontapés.
Mas passemos à outra liberdade. O presidente Jair Bolsonaro está livre também. Deixou o desconfortável PSL que serviu de abrigo para sua eleição, mas cujas chaves da casa – e do cofre – nunca teve nas mãos. Ao anunciar a Aliança pelo Brasil, partido que tentará criar até março para que seus aliados possam disputar as eleições municipais, ele avança na sua consolidação política. Eleger-se presidente da República é um passo gigantesco, mas pode ser único se não tiver uma base coesa e disposta a tudo por ele. Com a nova legenda – que marotamente lembra outra aliança, a renovadora nacional (Arena) – ele vai tentar transformar o difuso apoio popular que recebeu em 2018 em verdadeira militância bolsonarista.
Por fim, temos a liberdade do governador Carlos Moisés. Eleito na onda gerada pela eleição de Bolsonaro e sua popularidade entre os catarinenses, o comandante nunca ficou confortável na farda bolsonarista. Com a saída do presidente e seu séquito do PSL, terá um partido quase vazio para transformar em uma força política de peso no Estado. Parece disposto e encantado com o desafio.
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Publicado nas edições de DC Revista, AN Revista e Santa Revista de 16/11/2019
Leia a coluna da semana passada:
Como funciona o bloco de 11 deputados avulsos que apoia Moisés na Alesc