Prefeito de Chapecó em segundo mandato e liderança emergente na política catarinense, Luciano Buligon está sem partido desde setembro do ano passado. Na época, ele foi expulso pelo PSB nacional um dia depois de anunciar apoio a Jair Bolsonaro (PSL) ainda em primeiro turno. Passada a eleição, disse que escolheria sem pressa o novo destino partidário. Em entrevista ao colunista Upiara Boschi, Buligon diz estar muito próximo do DEM após convite de Rodrigo Maia e ACM Neto e faz um balanço otimista dos primeiros meses do governo Bolsonaro.

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Veja a íntegra da entrevista no Cabeça de Político:

Leia a entrevista:

O senhor surpreendeu em setembro do ano passado ao anunciar apoio a Jair Bolsonaro (PSL) à presidência ainda em primeiro turno, o que resultou em sua expulsão sumária do PSB. Se arrepende da decisão?

Eu sempre defendi muito os políticos que têm posições claras e firmes. Acho que nós somos eleitos para tomar decisões, principalmente em momentos importantes. Sejam eles nacionais, regionais ou municipais, é preciso ser tomada a decisão. Eu sentia que o Brasil estava vivendo uma certa dúvida sobre quem disputaria o segundo turno contra o PT. Sempre tive uma posição muito clara de que o PT não fez bem para o Brasil e precisava me posicionar. Eu sabia que sofreria uma restrição do partido, porque participava das decisões e percebia que não havia simpatia pelo Bolsonaro. Mas confesso que não esperava que fosse tão rápido, foi sumária mesmo (a decisão do PSB nacional veio no mesmo dia do anúncio de Buligon).

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O senhor se sentia à vontade em um partido que tem "socialista" no nome?

O S sempre me incomodou. Para quem me perguntava sobre isso, eu dizia que preferia entender que era de Sustentável. Até porque era uma bandeira do Eduardo Campos (ex-presidente do partido, morto em 2014 nos primeiros dias da campanha para presidência da República). Ele dizia que transformaria no Partido Sustentável do Brasil e sempre tratei o partido assim. Nunca tive afeição ao socialismo e acredito que nas mãos do Eduardo Campos ele tomou esse rumo, sim. Nós estávamos aqui em Santa Catarina e fomos sensibilizados por ele, que passou aqui, passou lá por Chapecó também e nos deixou essa visão do que o partido viraria.

Sem ele, o partido está voltando às origens de esquerda…

Acabou voltando de forma radical.

O senhor ficou sem partido até agora. Já tem um rumo definido?

Eu tenho alguns encaminhamentos. O DEM, entre outros partidos, tem uma posição muito firme em Santa Catarina e no Brasil.

Um partido que está praticamente vazio no Estado desde que foi fundado o PSD em 2011.

Tem líderes importantes como o (ex-deputado federal) João Paulo (Kleinübing). Eu recebi um convite que me sensibilizou muito. Na casa do presidente Rodrigo Maia (da Câmara dos Deputados) e também uma conversa muito otimista, alvissareira, entusiasmada com o nosso presidente nacional (do DEM) ACM Neto, prefeito de Salvador. Confesso que estou sensibilizado.

O senhor está com um ou com os dois pés no DEM?

Talvez com um e meio (risos).

O senhor se expôs com o apoio a Bolsonaro. Como vê os primeiros meses do governo dele?

Ele está fazendo o que se propõe. Ele já coloca a reforma da previdência em pauta. Há discussões de uma futura reforma política que o Brasil precisa. Mas o Bolsonaro está fazendo algo que é primordial neste momento: o desmanche do que o PT deixou no país. Está desmanchando as estruturas que nos levariam, invariavelmente, a uma Venezuela brasileira. O grande papel do Bolsonaro nesses primeiros dias é a indicação de estar desmanchando essas estruturas muito pesadas para o país carregar.Acredito muito que ainda no primeiro semestre teremos a reforma da previdência.

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Rodrigo Maia, do partido em que o senhor diz estar com um pé e meio, está reclamando publicamente da articulação política do governo Bolsonaro, especialmente na reforma da previdência…

Ele não está reclamando, a política é assim. São momentos. Os espaços estão ali. O DEM hoje ocupa um espaço importante, uma sustentação política no Congresso. Tem a presidência do Senado (Davi Alcolumbre, do Amapá) e da Câmara. E o Rodrigo Maia me parece que será o grande líder das transformações que o Bolsonaro propõe dentro do Congresso. Porque a gente sabe que não há como um presidente governar sem ter uma estrutrura firme, forte e decidida pelo Brasil. E esse é um dos grandes motivos que me sensibiliza o convite do DEM.

Nos últimos anos, Chapecó produziu duas lideranças de peso estadual, ambas no PSD: João Rodrigues e Gelson Merisio. O senhor apoiou até o fim a candidatura de Merisio ao governo. Como vê agora essas lideranças em colisão e a possibilidade de Merisio mudar de partido?

E me engajei também na campanha do João a deputado federal, porque são duas lideranças que apoiaram minha eleição para prefeito. Política é isso. No momento em que eles foram candidatos, também me apresentei como um cabo eleitoral. E vivi na plenitude esse sonho de eleger um governador do Oeste e um deputado federal (Rodrigues teve votos suficientes para se reeleger, mas ainda tenta na Justiça a validação do registro de candidatura).

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É hora de sair da sombra dos dois, prefeito?

Eu vou dizer que nunca estive na sombra porque nunca estive no partido deles. Acho que a gente consegue se somar na medida em que entendermos que os três são líderes. Se me perguntares se cumpri meu papel, digo que cumpri e que estou pronto para cumprir o meu papel hoje de fortalecimento do Oeste a partir da partir da prefeitura e do prefeito Luciano Buligon.

O senhor não tem reeleição. Tem candidato à sucessão?

Tenho, mas não vou te contar agora (risos). Acho que nós temos. Chapecó tem uma união pela cidade que é incrível. Uma cidade que respira associativismo, cooperativismo. E tenho, sim. Mas não é oportuno dizer agora.