A morte precoce de Lédio Rosa de Andrade, 60 anos, surpreendeu muitas pessoas na manhã de terça-feira (29). Juiz aos 23 anos, desembargador do Tribunal de Justiça aos 47, ele havia deixado o Judiciário aposentado, ano passado, após uma carreira marcada por uma visão progressista do Direito – com habilidade política nos bastidores e falas contundentes. Sua maior marca foi a coordenação do programa Lar Legal, que concedia títulos de propriedade a pessoas carentes que ocupavam de forma consolidada áreas invadidas.

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Essa trajetória de Lédio no Judiciário foi encerrada em outubro de 2017, com o suicídio do amigo de infância e lutas políticas Luiz Carlos Cancellier, ex-reitor da UFSC. O magistrado identificava abuso de poder nas circunstâncias que levaram à prisão de Cancellier na Operação Ouvidos Moucos, da Política Federal.

No velório do amigo, Lédio indicou em um emocionado discurso que iria mudar de trincheira. Justificou o gesto extremo de Cancellier dizendo que “só a tragédia poderia chamar atenção de uma sociedade que vive uma histeria coletiva”. Encerrou o discurso com palavras fortes.

– Porcos e homens se confundem. Fascistas e democratas vestes as mesmas togas. Eles estão de volta, temos que pará-los.

Semanas depois, Lédio pediu aposentadoria. Passou a ser citado como possível candidato do PT ao governo do Estado – o que seria uma aposta em um nome fora dos tradicionais e desgastados quadros petistas catarinenses. A filiação aconteceria em 24 de março, durante o comício do ex-presidente Lula em Florianópolis, em meio à militância petista reunida em frente à Catedral.

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Duas semanas depois Lula teria a prisão determinada pelo juiz Sérgio Moro – em consequência da confirmação da condenação no caso do tríplex pelo Tribunal Regional da 4a Região. Com seu líder máximo preso, os petistas radicalizaram o discurso do golpe e com ele foram até o máximo tempo possível em uma candidatura presidencial de Lula que todos sabiam que não seria confirmada pela Justiça Eleitoral.

Nos Estados, a demanda da base foi por nomes conhecidos e dispostos ao enfrentamento político. Não era momento de novidades. Com isso, o deputado federal Décio Lima (PT) acabou candidato ao governo e a ex-senadora Ideli Salvatti voltou ao jogo para dividir o palanque com Lédio como postulantes ao Senado.

De nome diferente para renovar a esquerda, Lédio acabou ofuscado pelo mais do mesmo petista. O magistrado que virou político acabou em sétimo lugar, com 327 mil votos, pouco atrás de Ideli. Como político, Lédio não teve chance diante da onda conservadora e anti-petista que passou pelo Estado. Era um nome interessante, com uma trajetória robusta de vida e coisas importantes a dizer. Chegou na hora errada.

A fala do governador Carlos Moisés da Silva (PSL), aluno de Lédio no Curso de Direito, deixa claro o tipo de pessoa que Santa Catarina perdeu na manhã de terça-feira.

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– Seu falecimento prematuro priva Santa Catarina de um homem justo, correto e ético acima de tudo. Que o seu legado sirva de inspiração para o surgimento de homens públicos tão honrados quanto ele.