Júlio Garcia é o político mais mineiro de Santa Catarina. Nesse estilo, que combina capacidade de articulação, paciência e escolher a hora certa de falar, o deputado estadual eleito pelo PSD encaminhou sua terceira eleição como presidente da Assembleia Legislativa – depois de uma década ausente do parlamento. No final da tarde de terça-feira, a bancada pessedista bateu o martelo e indicou Garcia como candidato único da sigla.
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Essa composição interna contou com dois gestos importantes. Também candidato, o deputado estadual reeleito Milton Hobus aceitou abrir mão da posição. Fora da Assembleia ano que vem, mas ainda influente nos bastidores, o deputado estadual Gelson Merisio também deu aval à composição.
Um aval importante porque Merisio e Garcia, embora correligionários, passaram toda a campanha eleitoral em lados opostos – deputado estadual eleito não só não pediu votos para o colega candidato a governador, como demonstrou publicamente a contrariedade com o projeto do PSD.
É cedo para dizer que o acerto entre ambos pacifica os pessedistas. Mas inicia, certamente, um armistício. Garcia e Merisio usam a mesma expressão para definir o momento: hora de olhar para frente. Fica a expectativa sobre se o mesmo critério será utilizado na metade do ano, quando encerra o mandato de Merisio na presidência estadual do partido – ele deseja permanecer.
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No jogo da Alesc, Garcia mineiramente tem sua eleição encaminhada. Hoje tem a maioria dos 40 parlamentares em uma composição que aproveita parte das articulações previamente realizadas pela dupla Hobus e Merisio. Foram eles que instrumentalizaram um sentimento que permeava as menores bancadas de que era preciso não fortalecer MDB e PSL, as duas maiores bancadas, neste momento. Por isso não avançou o projeto inicial de Garcia de construir maioria junto com os emedebistas – até oferecendo os dois primeiros anos a um candidato do partido.
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A futura bancada do MDB está em sua maioria com o deputado estadual reeleito Mauro de Nadal, escolhido candidato da sigla à presidência. Mas ainda cuida das feridas deixadas pela operação interna que isolou Valdir Cobalchini, o outro postulante. Nadal é o candidato, mas talvez não chegue a fevereiro nesta condição. A tradição na eleição da Alesc é assim que um grupo político alcança os 21 votos necessários para vencer, os demais voltam à mesa para negociar a composição da chamada mesa diretora eclética – aquela que garante espaço proporcional a todos os partidos.
Em meio à tantas novidades, tantos novos eleitos, novas forças e o declarado horror à velha política, é bom observar se haverá desta vez alguém que se levante e dê fim a essa regra não escrita que persiste desde 2005. Curiosamente, a primeira vez que Júlio Garcia chegou à presidência do parlamento. Ao estilo mineiro que sempre caracterizou sua trajetória política.