Júlio Garcia negou Gelson Merisio por três vezes. Esta semana o deputado estadual eleito usou o microfone de rádios do Sul do Estado para mais uma vez torpedear a candidatura a governador do correligionário e declarar apoio ao adversário Comandante Moisés (PSL) neste segundo turno. A disputa interna dos pessedistas é uma das marcas desta eleição, o que justifica o uso da metáfora bíblica na frase inicial do texto.
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Em novembro do ano passado, Garcia negou Merisio pela primeira vez ao lançar a pré-candidatura do deputado federal João Rodrigues (PSD) ao governo estadual. A manobra enfraquecia o até então único pré-candidato pessedista em um momento de afirmação e construção de acordos políticos visando coligações. Nos bastidores, o lançamento de Rodrigues era visto como uma forma de enfraquecer Merisio e garantir a reedição da aliança com o MDB. A prisão de Rodrigues em fevereiro impediu a continuidade do plano.
Em abril, no entanto, Garcia negou Merisio pela segunda vez. Em entrevistas ao colega Moacir Pereira e ao programa Cabeça de Político, que apresento no NSC Total, ele mais uma vez criticou a viabilidade da candidatura de Merisio, a aliança de médios e pequenos partidos por ele montada e disse que o PSD deveria apoiar um nome de outra sigla. Apontou os tucanos Paulo Bauer e Napoleão Bernardes, o pepista Esperidião Amin, o pessebista Paulo Bornhausen e os emedebistas Eduardo Pinho Moreira e Mauro Mariani como nomes com mais potencial eleitoral que o do colega.
Merisio sobreviveu aos dois ataques especulativos e colocou seu bloco na rua. Garcia fez o mesmo e cuidou de sua candidatura à Assembleia Legislativa – lugar em já exerceu quatro mandatos e que presidiu por duas vezes – de forma independente da chapa majoritária. Não usou Merisio em seu material de campanha, não frequentou os mesmos eventos, recusou recursos do partido e o espaço no horário eleitoral gratuito. Com 57,7 mil votos, retornou ao parlamento como o terceiro deputado mais votado, seu melhor resultado até hoje.
Oficialmente de volta à ribalta, Garcia negou Merisio pela terceira vez. Em um momento em que as pesquisas internas mostram dificuldades para o candidato pessedista diante de um Moisés turbinado pela Onda Bolsonaro e pelo desejo de renovação política, o deputado estadual eleito diz que o outsider foi beneficiado pela fragilidade de “candidaturas impostas” – Merisio no PSD, Mariani no MDB. Afirma também que a condução de Merisio levou à redução das bancadas do partido.
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Garcia diz que ainda não conheceu o comandante, mas que vê nele um homem honesto e equilibrado. Nos bastidores da Alesc, há expectativa de que seja o pessedista o articulador de uma futura base aliada se o candidato do PSL for eleito, em negociações que incluíriam a presidência do parlamento estadual. Questionado sobre ser candidato, Garcia diz que presidir a Alesc não pode ser uma pretensão pessoal. É a senha da candidatura.