Julgamento de Lula mexe com corrida presidencial, mas tem pouco efeito na sucessão em SC

Quem olha para as perspectivas do Brasil e de Santa Catarina para as eleições deste ano pode achar que se tratam de dois países diferentes que por coincidência marcaram suas votações para a mesma data. Hoje temos um momento emblemático desse descolamento: o julgamento do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre, define os rumos da eleição brasileira, mas está longe de ter peso semelhante quando se trata da disputa catarinense.

A presença ou ausência do líder petista transforma completamente a corrida presidencial. Aqui em Santa Catarina, ainda se trata de mera curiosidade. A sucessão do governador Raimundo Colombo (PSD) é um jogo que as lideranças partidárias locais estão jogando quase sozinhas. Elas constroem seus projetos, preveem prévias, encorajam disputas internas, negociam alianças.

O eco de Porto Alegre terá como efeito estadual alguma mobilização da base petista que vinha se desgarrando eleição após eleição e que tenta se reaglutinar desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Lula candidato, Lula mártir ou uma mistura de ambos os personagens é o vetor a consolidar essa reorganização dos petistas catarinenses — insuficiente, é claro, para fazer do partido uma opção de poder no Estado.

No país Brasil, o petista lidera as pesquisas e provoca como efeito colateral a consolidação de Jair Bolsonaro como anti-Lula, enquanto dezenas de nomes tentam se credenciar como voz moderada em uma disputa que tem tudo para ser feita aos gritos. Nada disso teve efeito ainda no país Santa Catarina, onde novos rostos — Gelson Merisio (PSD), Mauro Mariani (PMDB), Udo Döhler (PMDB), Napoleão Bernardes (PSDB) — e outros não tão novos — Paulo Bauer (PSDB), Esperidião Amin (PP), Eduardo Pinho Moreira (PMDB) — tentam construir suas candidaturas como se nada tivesse acontecido desde 2014.

Em algum momento os cenários políticos vão se cruzar e o peso da política nacional vai influenciar a formatação final das candidaturas no Estado. Não será hoje e nem motivado pela decisão dos desembargadores federais de Porto Alegre.