Goste-se ou não de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), goste-se ou não de Sérgio Moro, é inegável que a derrocada jurídica que resultou nas condenações do ex-presidente no âmbito da Operação Lava-Jato dificilmente teria acontecido sem a sanha do ex-juiz de Curitiba. Quando magistrado, Moro foi ao limite das interpretações legais – talvez as tenha até ultrapassado – para manter o petista ao alcance de sua implacável caneta.
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Em Santa Catarina estamos presenciando um momento semelhante entre o presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (PSD) e a juíza federal Janaína Cassol Machado, responsável pelas decisões da Operação Alcatraz – o inferno astral do experiente e articulado parlamentar catarinense. Desde a deflagração da operação, no final de maio do ano passado, o pessedista é claramente o alvo principal da investigação que tenta provar a existência de uma rede de propinas abastecida por contratos firmados na Secretaria Estadual de Administração entre 2008 e 2018. Naquela primeira fase da Alcatraz, o mandado de busca e apreensão contra o presidente da Alesc ganhou logo as manchetes e começou o desgaste que seria complementado pelas quatro denúncias do Ministério Público Federal e, agora, com as prisões domiciliares determinadas na terça-feira, na segunda fase da operação, e quinta-feira.
Nesse período todo, a defesa de Júlio Garcia se esforça em negar todas as acusações, mas se dedica enfaticamente a tentar tirar o parlamentar das mãos da juíza. Todos os esforços vêm sendo realizados para caracterizar que Janaína Cassol Machado não tem competência para julgar atos do deputado estadual e presidente da Assembleia e que ele sofre perseguição por parte dela. Como em uma disputa de esgrima, ela contra-argumenta em suas decisões para manter Júlio Garcia ao alcance de sua caneta. Por enquanto, ela tem vencido.
Sob a égide da polarização política nacional, Lula é vilão ou vítima de acordo com a simpatia de quem analisa, assim como Moro pode ser herói ou carrasco. As figuras da política catarinense não despertam – felizmente – esse tipo de idolatria ou ojeriza. Mas é inevitável constatar que Júlio Garcia encontrou em Janaína Cassol Machado o seu Sérgio Moro e que ela encontrou seu Lula.
Tabela SC/SP na Fecam

A posse de Clenilton Pereira (PSDB), prefeito de Araquari, como presidente da Federação Catarinense de Municípios (Fecam) teve um olho aqui e outro em São Paulo. O governador Carlos Moisés (PSL) estava presente, mantendo a postura recente de aproximação com lideranças e entidades políticas. É boa a relação dele com Clenilton (ao lado do governador na foto). De São Paulo, veio Fred Guidoni (PSDB), à direita na foto, prefeito de Campos do Jordão e presidente da federação dos municípios paulistas. A intenção é criar laços entre as entidades municipalistas. Entre as ideias, que projetos básicos sejam compartilhados entre as prefeituras. Sisi Blind (PP), ex-prefeita de São Cristóvão do Sul e ex-presidente da Fecam, completa o registro.
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De olho em Joinville
O tucano Clenilton Pereira, novo presidente da Fecam, mostra apetite para crescer na política. Reeleito em Araquari com 82,5% dos votos, ele recrutou para seu secretariado dois candidatos a prefeito da vizinha Joinville: Tânia Eberhardt (Cidadania) na Saúde e James Schroeder (PDT) na Agricultura e Pesca, ambos ex-vereadores da maior cidade do Estado. Em Florianópolis nesta semana, Clenilton andava sempre ao lado do também tucano, ex-vereador e candidato a vice-prefeito de Joinville, Rodrigo Fachini. Perguntado sobre se tem interesse em disputar uma cadeira na Alesc em 2018, Clenilton nega com veemência. Sobre a possibilidade de um dia disputar a prefeitura da cidade vizinha, entrega: “é um sonho”.
Brincadeira
Consultor da Fecam e ex-deputado estadual pelo PT, Jailson Lima está hoje filiado ao PL de Jorginho Mello (PL). Questionado sobre a guinada partidária, ele brinca:
– Eu falei para o Jorginho que era necessário criar a ala trotskista-leninista do PL.
De volta
Com a posse de Altair Silva (PP) na secretaria de Agricultura, a Alesc recebe de volta um ex-presidente do parlamento estadual. Silvio Dreveck (PP) assumiu a vaga de deputado estadual na segunda-feira e deve auxiliar a articulação política do governo Moisés – até porque, sua permanência no plenário depende de que o governo vá bem. Ou, no mínimo, a composição com o Progressistas. Em 2018, faltaram 866 votos para a reeleição de Dreveck.
Balança
A segunda fase da Operação Alcatraz, denominada Hemorragia, volta às baterias para a atuação de nomes do MDB na máquina do Estado entre 2008 e 2018, com ênfase para o ex-secretário de Administração, Milton Martini (MDB), preso preventivamente, e do ex-governador Eduardo Pinho Moreira (MDB), alvo de mandado busca e apreensão. Na geografia interna do partido, sempre muito interessante, é um desgaste que fortalece ainda mais bancada dos deputados estaduais.
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Ao ataque
Mais do que as economias propaladas e retirada de privilégios trabalhistas, o prefeito florianopolitano Gean Loureiro (DEM) mira a Comcap em sua reforma administrativa para enfraquecer uma estrutura que sempre dá dor de cabeça aos prefeitos da Capital. É até difícil explicar para quem mora fora de Florianópolis o peso político da autarquia responsável pela coleta de lixo e limpeza urbana – entre outros serviços que serão espalhados por diversos órgãos caso a proposta seja aprovada pela Câmara dos Vereadores. Fortalecido pela reeleição em primeiro turno, Gean resolveu enfrentar.
Concisas
– Na posse da Fecam também estava Vinicius Lummertz (MDB), secretário de Turismo de SP e uma espécie de embaixador do governador paulista João Dória (PSDB) em SC.
– O deputado estadual Luiz Fernando Vampiro (MDB) será mesmo secretário de Educação do governo Moisés.
– E a suplente Tati Teixeira (MDB) que assumiu a vaga de deputada estadual apenas durante o recesso acabou tendo que votar sobre a prisão de Júlio Garcia (PSD).
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