Quem vê a figura de João Pizzolatti encostado em uma cerca, com sinais de embriaguez, questionado rispidamente por pessoas indignadas com o acidente de trânsito que ele teria causado na tarde de uma quarta-feira, pode ter dificuldades de lembrar que estava ali uma das figuras mais importantes – e controversas – da política catarinense nas últimas décadas. Poucas vezes um ocaso político foi tão rápido e avassalador quanto o do ex-deputado federal do PP.

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Promotor investigará atuação de policiais em acidente com Pizzolatti

Voltemos no tempo, aos mandatos de Lula na Presidência do país, aquele otimismo causado pelo crescimento econômico e crédito abundante. Na época, Pizzolatti era um dos catarinenses com maior trânsito no Planalto, um campeão de liberação de emendas parlamentares. A Operação Lava-Jato revelaria, tempos depois, que ele integrava o núcleo duro da quadrilha do PP no Congresso, aquela que supostamente fazia o rateio da cota do partido nas propinas da Petrobras.

Os sinais da decadência política de Pizzolatti, no entanto, começaram a surgir muito antes da Lava-Jato. Uma participação minoritária em uma empresa contratada pela prefeitura de Pomerode nos anos 1990, quando já era deputado federal e não poderia ter negócios com o poder público, levou a uma condenação que fez dele um dos primeiros atingidos pela Lei Ficha Limpa. A quarta reeleição como deputado federal em 2010 foi conquistada na urnas com 133 mil votos – o quinto mais votado – e nos tribunais quando os ministros do STF entenderam que a nova regra não valia para aquelas eleições.

Garantido o mandato, Pizzolatti tentou ampliar sua influência no Estado – seu grupo nunca teve maioria no PP catarinense, onde Esperidião Amin era adversário interno. Chegou a tentar disputar a presidência do partido, numa tentativa de atrelar os pepistas do Estado ao projeto nacional do PT, sem sucesso.

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Quando tentou a quinta reeleição, em 2014, a Lei Ficha Limpa não deixou. Ensaiou lançar o filho, que desistiu. Sem mandato e com a Lava-Jato nos calcanhares, aceitou uma vaga no secretariado do governo de Roraima como forma de buscar algum foro privilegiado. Em Boa Vista, envolveu-se em um mal-explicado acidente doméstico que chegou a deixá-lo em coma. Voltou ao Estado, onde é servidor de carreira da Secretaria da Fazenda, como réu no STF na ação que julga o chamado quadrilhão do PP.

As imagens gravadas na quarta-feira, após o acidente de trânsito em que se envolveu Pizzolatti, dispensam adjetivos e comentários de cunho moralista. Falam por si. Resta a reflexão sobre um poder que parecia inesgotável, sobre uma decadência sem elegância.

Leia o que já escrevi sobre João Pizzolatti no blog Bloco de Notas