Existem algumas formas de avaliar o trabalho de um parlamentar. Desde que assumiu o cargo em fevereiro do ano passado, beneficiado pela Onda Bolsonaro que colocou uma dúzia de semi-desconhecidos no primeiro time da política estadual, o deputado estadual Jessé Lopes (PSL) vai se notabilizando por protagonizar polêmicas torpes – em que o tom grosseiro é justificado como se fosse autenticidade na defesa das pautas conservadoras.

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Com as declarações a favor do assédio às mulheres no Carnaval, Jessé Lopes conseguiu mais uma vez os holofotes – desta vez até em nível nacional – que a atuação como deputado estadual lhe negaria, por insuficiente. Na prática, o parlamentar de Criciúma se fez notar como deputado no dia em que tirou o quadro do governador Carlos Moisés (PSL) da parede para colocá-lo de castigo por ser pouco bolsonarista. Desde então, faz declarações toscas nas redes sociais para evitar ser novamente esquecido.

Como disse antes, existem maneiras de avaliar um mandato parlamentar – a polêmica vã não é uma delas. Alguém pode ser considerado um bom deputado pelas propostas que apresenta. Nesse quesito, Jessé Lopes não é, não.

Em seu primeiro ano de mandato, o parlamentar apresentou três projetos de lei em que dá vazão a suas obsessões: obrigar alunos da Udesc a fazer exame toxicológico, permitir que agentes socioeducativos usem equipamentos de segurança e repressão, vender as residências oficiais do governador e da vice-governadora. Duas emendas constitucionais também têm suas digitais: uma pelo fim do recesso parlamentar, outra para retirar da Constituição a expressão "orientação sexual" no âmbito das obrigações do sistema estadual de educação.

Mas é claro que um parlamento não pode ser visto como uma fábrica de leis, ele tem outras funções e podemos medir a atuação parlamentar por outros critérios. Alguém pode ser considerado um bom deputado pela efetiva participação nas comissões mais destacadas do parlamento, com a relatoria do projetos de impacto. Nesse quesito, Jessé Lopes não é, não.

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O parlamentar do PSL (enquanto o Aliança não sai do forno) participa de três comissões que não estão na linha de frente dos grandes debates – a Comissão em Defesa das Pessoas com Deficiência, a Comissão de Direitos Humanos e a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. Dessa forma, poucas propostas de impacto caem em suas mãos para relatoria.

Mas nem só de elaborar legislação – propondo as suas ou aperfeiçoando as dos outros – vive um parlamentar. Alguém pode ser considerado um bom deputado pela habilidade na articulação política, na construção de acordos que façam as ideias chegarem à vida real das pessoas. Nesse quesito, Jessé Lopes não é, não.

Em nenhum momento desde que chegou à Assembleia Legislativa, o deputado se empenhou em construir formas de fazer suas ideias ganharem alguma consequência para além da polêmica vazia de rede social – visto seus próprio projetos, todos parados, lançados apenas para render likes.

Mas existe um tipo de parlamentar que não se destaca como formulador de legislação, nem pela atuação nas comissões e nem pela capacidade de articulação política. É possível ser um bom deputado com forte presença junto a suas bases eleitorais, levando os pleitos do eleitor distante até os ouvidos do poder central e trazendo a seus rincões os investimentos do Estado. Nesse quesito, Jessé Lopes também não é, não.

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Para o neófito deputado pesselista, esse negócio de levar recursos para a base eleitoral é mero clientelismo, troca de favor, velha política. Você, leitor, é testemunha de que eu me esforcei para fazer uma avaliação do trabalho parlamentar de Jessé Lopes para além das costumeiras polêmicas. Não consegui. Como a chamada nova política têm suas próprias regras e vive de gerar barulho para animar torcida na redes sociais, é capaz de que o deputado de Criciúma se perpetue em mandatos ao longo dos próximos anos. Nisso, ele tem mostrado talento.