Na quarta-feira passada, a equipe do governador Eduardo Pinho Moreira (MDB) convocava a imprensa para uma entrevista coletiva sobre os 100 dias da gestão que herdou com a renúncia do ex-governador Raimundo Colombo (PSD). Um balanço em que apresentaria um detalhamento das fontes de receita e de despesa do máquina estatal. A greve dos caminhoneiros levou ao cancelamento do encontro e, curiosamente, Moreira precisou falar diariamente com a imprensa nos dias que se seguiram.
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Na semana anterior à coletiva cancelada, a Secretaria da Defesa Civil fez uma simulação de desastre natural para pôr à prova as instalações do recém-inaugurado Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd). Sob comando do secretário Rodrigo Moratelli – um raro sobrevivente da gestão pessedista no primeiro escalão – a equipe do órgão permaneceu 72 horas no local, como se estivesse atendendo às consequências de uma enchente. Por ironia do destino, um ensaio para um desastre nada natural que aconteceria logo em seguida.
Na quinta-feira, Moreira chamou novamente a imprensa para a Cigerd para fazer um balanço diferente daquele que planejou semana passada. O governador falou sobre os dias de greve e detalhou as decisões do governo desde o início da crise. Ressaltou a paciência que teve com os manifestantes – com apoio popular e demandas justas sobre o alto e imprevisível preço do combustível. Narrou o sentimento da virada, a partir de segunda, quando definida a redução do diesel fez a greve enveredar para um caminho da política. Listou as ações do Estado para desbloquear as estradas e debelar os últimos focos de concentração de manifestantes.
— Agora serão tratados com impaciência — disse o governador.
No encontro, o secretário Airton Spies apontou que o episódio deixou lições de logística para o governo e para o setor produtivo. Ninguém estava devidamente preparado para as consequências da paralisação – exceto, talvez, a Defesa Civil. Nos próximos dias, governo e empresários vão continuar se reunindo para tratar do que pode ser feito para acelerar a recuperação da economia. É certo que os efeitos serão sentidos nos próximos meses, principalmente na combalida arrecadação estadual.
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Moreira fez fortes críticas ao projeto apresentado no Senado por uma insólita dupla – o semiprofeta Romero Jucá (MDB) e o marineiro Randolfe Rodrigues (Rede) – que fixa limites para as alíquotas de ICMS sobre os combustíveis. Para o diesel, o teto seria de 8%. Hoje, Santa Catarina pratica a menor alíquota sobre o combustível – 12% – e projeta uma perda de R$ 1,2 bilhão por ano com a proposta.
Além de ser a principal fonte de financiamento dos Estados, o ICMS também tem forte peso nos municípios, que recebem um quarto dos recursos arrecadados. Moreira alfinetou os senadores, cobrando projetos que diminuam o tamanho da máquina federal e não que retirem recursos de governos e prefeituras. O emedebista diz que já pediu aos senadores catarinenses que se oponham – apenas Paulo Bauer (PSDB) garantira a posição até quinta-feira.