O prefeito Gean Loureiro (DEM) viveu uma dura semana de desgaste após meses colhendo louros pelos desempenho de Florianópolis no combate ao coronavírus. A decisão de ampliar restrições, em uma espécie de semi-lockdown, iniciado quarta-feira passada, e a posterior revogação, esta terça-feira, após críticas, protestos e ensaios de desobediência civil colocaram o prefeito em uma situação inédita durante a crise do coronavírus: a de vidraça.

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Criticado de um lado por afrouxar as restrições, especialmente após a liberação de circulação dos ônibus do transporte coletivo, e por outro lado por retomar restrições a estabelecimentos comerciais que se adequaram às regras impostas pela própria prefeitura, Gean vive seu mais difícil momento como prefeito e pré-candidato à reeleição. Talvez nessa lógica tenha buscado compartilhar o desgaste.

Em entrevista na noite de segunda-feira ao colega Mateus Boaventura, na CBN Diário, o prefeito vinculou sua decisão de voltar atrás no fechamento de shoppings, galerias comerciais e academias de ginástica à entrevista que o governador Carlos Moisés (PSL) concedeu à NSC Comunicação. Nela, o governador disse que “uma comunidade inteira não pode ser prejudicada neste momento em que agora temos regras” e que deveria continuar funcionando quem aderiu às regras, com punição a quem as descumpra. Na entrevista, questionei diretamente se Moisés avaliava se Gean estava sendo rígido demais nas novas restrições e ele respondeu assim:

– Não quero julgar o ato do prefeito, tive tantos atos meus julgados. Eu agi de uma forma e entendo que o momento agora é de intervenções pontuais e do uso da fiscalização – afirmou Moisés.

Ao explicar na CBN Diário o ato de suspender as restrições seis dias após implantá-las, Gean citou esse trecho da fala de Moisés, lembrando que a disponibilização de leitos de UTI é responsabilidade do governo estadual – a ocupação havia chegado a 84,6% no domingo, conforme noticiou o colega Anderson Silva.

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– Quando foi questionado pelo Upiara na entrevista, o governador disse que não cabia o fechamento de estabelecimentos que estavam cumprindo regras sanitárias. Como o governo do Estado é responsável pelos leitos hospitalares, a gente imagina que ele tenha uma programação prevista para não deixar gerar o colapso. Não adianta apenas a prefeitura de Florianópolis ir buscando de maneira incessante e incansável ampliar as medidas de de distanciamento, quando há um posicionamento de maneira explícita de que não concorda com essa situação. Cabe à gente entender que há uma programação de poder atender toda a população – afirmou o prefeito.

Na coluna das revistas DC, AN e Santa do último final de semana escrevi que a retomada das restrições e a forma como foram anunciadas (incluindo o desastrado tuíte em que disse que “cada pessoa que desrespeita as regras de isolamento/aglomeração é responsável por um desempregado”) abriu um flanco para seus adversários à esquerda e à direita, o que ainda não havia acontecido. Quanto mais a pandemia se aproxima do calendário eleitoral, mais esse tipo de vacilo será politicamente aproveitado. E mais políticas ficarão as decisões envolvendo o enfrentamento ao coronavírus.

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