Nunca duvide do impulso suicida das elites: elas preferem morrer a perder seus privilégios. A frase não é minha, é do sociólogo Alberto Guerreiro Ramos, ouvida por um ex-aluno seu, o professor e ex-secretário estadual Ubiratan Rezende. Foi-me dita por ele anos atrás, quando passou brevemente pela Secretaria da Fazenda no primeiro governo Raimundo Colombo (PSD) e defendia a redução dos recursos para os poderes.
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Lembrei dessa frase marcante em meio a essa nova tentativa sub-reptícia dos caciques partidários de aumentar o fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão para R$ 3,7 bilhões para as eleições do ano que vem. A medida veio incluída como jabuti no relatório do deputado federal Cacá Leão (PP-BA) sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) na Comissão Mista de Orçamento. Jabuti é o apelido dado a emendas que aparecem onde não deveriam estar.
Quando a medida veio à luz, as reações contrárias surgiram. Na bancada federal catarinense praticamente todos já se manifestaram contra o reajuste bilionário de um fundo que já conta com ampla rejeição na sociedade. Vai se criando um clima que deve impedir sua aprovação no plenário da Câmara. Sigamos atentos.
Mas por que lembrei da velha conversa com Ubiratan Rezende e da frase de Guerreiro Ramos? Pelo espanto em constatar que as elites partidárias aprenderam nada ou muito pouco com as eleições do ano passado. Após o Supremo Tribunal Federal proibir das doações empresariais, o Congresso mexeu-se para aprovar um fundo eleitoral destinado a perenizar o modelo partidário – garantindo cotas mais generosas aos partidos de acordo com o resultado as eleições anteriores. Além disso, a pretexto de reduzir custos, diminuíram o tempo de campanha eleitoral oficial e os programas de televisão. Houve quem dissesse que apesar do anseio por mudança, elegeriam-se os mesmos – com menos votos.
O eleitor rejeitou a arapuca. Preferiu votar em desconhecidos, números aleatórios iniciados em 17, a escolher os mesmos e desgastados nomes de sempre. Diversos candidatos beneficiados pelo fundão ficaram pelo caminho, derrotados por algarismos compartilhados no WhatsApp.
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Em vez de assimilar o que mudou em 2018 e adaptar-se aos novos tempos, certa elite partidária prefere dobrar a aposta – injetar mais recursos no impopular fundão eleitoral na expectativa de eleger os vereadores e prefeitos que podem garantir a sobrevida pessoal e das legendas nas eleições de 2022. Não mudaram nada – não aprendem e não esquecem.