A classe política não se ajudou, ao ignorar todos os sinais da sociedade de que queria renovação de práticas, nomes e condutas. Mas é interessante constatar que a quase completa desmoralização dos políticos não teria alcançado tamanho sucesso sem as revelações dos conteúdos das delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht e da JBS.
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As narrativas apresentadas descortinavam uma rede de interesses em que cada real doado a campanhas políticas – caixa um, dois ou três – era compensado por favores ou intenções claros. Praticamente nenhum partido saiu ileso, grandes nomes da política caíram nessa rede. As delações foram apresentadas entre abril e maio do ano passado, mas o que mais chama atenção é que fragilidade do que foi denunciado pelos executivos de Odebrecht e JBS fez com que seu efeito fosse limitado à esfera eleitoral – ajudando a turbinar essa onda de expulsão dos políticos da classe política que Jair Bolsonaro (PSL) tão bem surfou em nível nacional e que em Santa Catarina fez do PSL um campeão de votos.
Em termos judiciais, pouco do que os delatores disseram conseguiu ser comprovado. Na última sexta-feira, a ex-senadora Ideli Salvatti (PT) recebeu um relatório da Polícia Federal indicando o arquivamento da investigação baseada em delação da Odebrecht de que teria doado R$ 300 mil em caixa 2 para a campanha da petista ao governo em 2010 – valores intermediados pelo então prefeito joinvilense Carlito Merss (PT). O delegado Maurício Gössling afirma que o material apresentado pelos delatores é de “valor probatório praticamente insignificante”. Basicamente, os delatores apresentaram suas falas, codinomes em uma lista elaborada pela própria empreiteira e um número de telefone que seria de Carlito. E com isso caberia à Polícia Federal investigar uma suposta operação realizada sete anos antes.
Ideli se queixa de que teve que responder sobre o caso durante a última campanha eleitoral, quando ficou apenas em sexto lugar na tentativa de voltar ao Senado. Claro que não pode colocar nas delações o peso desta derrota, mas o clima de antipetismo e de antipolítica foi vitaminado por delações inconsistentes.
Concorrente de Ideli e favorito para uma das vagas, o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) é o exemplo máximo desse desgaste. Citado por delatores tanto da Odebrecht quanto da JBS como beneficiário de doações nas campanhas de 2010 em 2014 em troca de supostas facilidades na venda da estatal Casan, o pessedista passou mais de ano respondendo pelas acusações, quase todas já arquivadas pela mesma constatação: a narrativa dos delatores era inconsistente.
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Ao potencializar seus relatos e apresentar à Procuradoria-Geral da República de um sistema político todo corrompido por meia-dúzia de empresas, os delatores conseguiram reduzir penas e consequências empresariais. Agora, percebe-se que os benefícios foram superiores à entrega de provas. Não se trata de bradar a inocência de Ideli, Colombo ou quem quer que seja. Quem tinha que provar as acusações que fazia, não o fez. O efeito colateral de ter todo os sistema político desmoralizado, no entanto, é uma consequência que ainda vamos descobrir aonde vai nos levar.