O fato: Jair Bolsonaro (PSL) tomou posse como 38º presidente do Brasil em um evento acompanhado por cerca de 115 mil pessoas em Brasília. Uma versão: posse de Bolsonaro foi maculada pelas dificuldades impostas ao trabalho dos jornalistas. Um discurso: o novo
presidente fala em livrar o Brasil do socialismo. Outra versão: a primeira-dama Michelle Bolsonaro e seu discurso em Libras foram o destaque maior do evento. Uma certeza: os fatos geram muito menos repercussão do que as versões e os discursos.
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Assim vivemos esse mundo das redes sociais e do compartilhamento de informações na ponta dos dedos, via tela de celular. É nesse campo que o governo Bolsonaro vai tentar manter a dianteira que conquistou e consolidar essa guinada conservadora que o brasileiro deu nas urnas em outubro do ano passado. É nesse terreno que o PT vai tentar minar o novo governo e trabalhar para recuperar a hegemonia perdida com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Por incrível que pareça, há uma aliança tácita dos opostos – um se alimenta
do ódio ao outro.
Dessa forma, devemos passar os próximos quatro anos em uma disputa de versões e discursos que vai opor o autoritarismo (ou o fascismo) ao socialismo (ou o comunismo) – espantalhos a esconder os verdadeiros rostos de uma disputa política falsamente polarizada entre supostos extremos que nunca se negaram a compor com o lado mais atrasado do patrimonialismo tradicional brasileiro. Será preciso paciência para procurar os fatos. É nossa missão.
A posse presidencial em Brasília, que pude acompanhar de perto, deixou claro esse cenário. No pano de fundo há muita política. Mal assumiu, o governo Bolsonaro expõe divisões entre alas militar e evangélica e dificuldades de unificar um heterodoxo e cheio de novatos PSL. Nomes que sempre estiveram com Bolsonaro não vieram à posse: o ex-vice dos sonhos e senador não-reeleito Magno Malta (PR-ES), preterido no ministério, e o pastor deputado Marco Feliciano (PSC-SP) são exemplos. Deputada federal eleita com a maior votação do país, Joice Hasselmann (PSL-SP) chegou até o Congresso e não quis subir a rampa. Diz que preferiu ficar com o povo.
Em Santa Catarina, onde a posse de Carlos Moisés da Silva (PSL) é o fato, também existem versões, discursos e espantalhos. Esse tripé pode ser resumido nessa ideia de que temos um Estado quebrado por uma geração de políticos incompetentes e/ou mal-intencionados
que agora é substituída por técnicos apolíticos. É o fácil discurso da rede social, mas não abarca a complexidade da situação. O fato é que a retomada do crescimento da arrecadação já foi verificada em novembro e dezembro de 2018 e que se o ritmo se mantiver, a vida de Moisés ficará muito mais fácil – inclusive para fazer as reformas tão desejadas na máquina pública.
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Férias
A coluna e o colunista darão uma pausa pelos próximos 15 dias. Até a volta e feliz 2019 para todos nós.