Na tarde da última segunda-feira, sob olhar atento e até mesmo orgulhoso de Carlos Moisés da Silva (PSL), a vice-governadora Daniela Reinehr (PSL) tornou-se a primeira mulher em toda a história de Santa Catarina a assinar o livro de posse dos governadores do Estado. Colônia, Império, República; eleitos, substitutos, indicados, interinos – só homens comandaram a terra catarinense.

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Embora sua capital esteja parcialmente sediada em uma, Santa Catarina não é uma ilha. Em toda a política brasileira as mulheres ainda buscam espaço de protagonismo. No entanto, é inegável que nesse quesito os catarinenses andam a passos mais lentos que muitos de seus colegas de federação.

Os 14 dias de interinidade de Daniela Reinehr nas férias de Carlos Moisés tem um valor simbólico muito maior do que possíveis atos práticos que a bolsonarista possa tomar com a caneta de governadora na mão. Não ter, até este momento, nenhuma mulher sequer como interina no comando Estado é uma condição causada não só pelo fato de que os catarinenses nunca elegeram uma governadora e que só agora tem sua primeira vice.

Elas também nunca chegaram à presidência da Assembleia Legislativa. No Tribunal de Justiça, apenas por três meses entre 1989 e 1990, quando a desembargadora Thereza Grisólia Tang assumiu o comando da instituição. O Legislativo e o Judiciário estão na linha de sucessão de governo e seus dirigentes são frequentemente agraciados por interinidades que servem para mostrar prestígio junto aos governadores titulares. Fora da linha de sucessão, o Tribunal de Contas do Estado nunca teve uma conselheira efetiva.

O espaço destinado pela Assembleia Legislativa para homenagear todas as deputadas estaduais que Santa Catarina já teve, inclusive suplentes, a chamada “galeria lilás”, tem apenas 15 retratos – de Antonieta de Barros nos anos 1930 até a antifeminista Ana Campagnolo (PSL) eleita em 2018. É pouco.

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Em 1994, Santa Catarina ficou a 40 mil votos de eleger uma mulher governadora. Era a deputada federal Angela Amin (PP), derrotada no segundo turno por Paulo Afonso Vieira (MDB). Mulher do ex-governador e hoje senador Esperidião Amin, ela fazia o primeiro voo como protagonista. Dois anos depois seria eleita prefeita de Florianópolis, reeleita em 2000. Tentou o governo do Estado novamente em 2010, quando ficou em segundo lugar, atrás de Raimundo Colombo (PSD). No auge do PT no poder nacional, a ex-senadora Ideli Salvatti também encarou a disputa pelo governo, ficando em terceiro lugar naquele mesmo 2010.

Hoje, não há no cenário político nenhuma mulher na linha de frente dos principais partidos para pré-candidaturas ao governo. A construção da primeira mulher eleita governadora de Santa Catarina precisa ser feita na base, com a eleição de vereadoras, vice-prefeitas e prefeitas este ano, com a consolidação da liderança das deputadas estaduais e federais. Em 2018, elegemos as maiores bancadas femininas da história do Estado, esta é a semente.

Olhe bem, leitor, para nomes como os das deputada federal Caroline de Toni (PSL) e Geovânia de Sá (PSDB) e das deputadas estaduais Luciane Carminatti (PT) e Paulinha (PDT). A seus modos, estilos e ideologias, cada uma delas apresenta características que podem fazer com que um dia assinem o livro de posse dos governadores catarinenses como titulares do cargo.

Publicado nas edições de DC Revista, AN Revista e Santa Revista de 11/1/2020

Leia a coluna da semana anterior:

O que explica o novo estilo de Raimundo Colombo