Tem mais retórica do que efeito prático a decisão anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de não participar de campanhas eleitorais no primeiro turno das eleições municipais de novembro. Mesmo sem a presença física ou virtual do presidente, ele será personagem frequente das discussões e terá o eleitorado disputado a tapas por milhares de candidatos a prefeito e vereador.
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Com sua posição, no entanto, Bolsonaro foge de diversas saias justas. O principal deles é o fato de estar sem partido. Em 2018, o então candidato a presidente de se envolveu pouquíssimo nas campanhas de candidatos a governador do PSL, partido que o abrigava na época e que ajudou, com a onda eleitoral que provocou, a colocar no mapa da política. Se dependesse de um vídeo de apoio de Bolsonaro, o catarinense Carlos Moisés (PSL) estaria hoje curtindo a reserva do Corpo de Bombeiros sem maiores preocupações. A participação de Bolsonaro na campanha em que o comandante bombeiro venceu com 71% no segundo turno se limitou a desistir da neutralidade anunciada entre ele e Gelson Merisio no segundo turno daquela campanha.
Era tudo que o candidato do PSL precisava, porque ele já tinha um símbolo inequívoco ao eleitorado de que era o “governador do Bolsonaro”, mesmo que este sequer lembrasse seu nome: ele tinha o número 17, do PSL. Essa é o grande problema das candidaturas bolsonaristas este ano. Com o presidente fora do PSL e a criação do Aliança empacada, seus representantes – de fato ou pretensos – estarão espalhados por diversas siglas, diversos números. A disputa sobre quem é o verdadeiro “candidato do Bolsonaro” deve ser frequente em diversos municípios e tende a pulverizar os votos do eleitorado mais fiel ao presidente – para sorte dos partidos e políticos tradicionais que temem nas eleições municipais uma onda semelhante a 2018.
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Esse problema da falta de um número que resuma o bolsonarismo na urna poderia ser resolvida com o apoio explícito de Bolsonaro – um videozinho que seja. Isso faria do presidente fiador de vitórias e derrotas, permitindo uma medição fiel do tamanho do bolsonarismo em 2020 – o que talvez ainda não seja estrategicamente interessante medir. Além disso, Bolsonaro seria depois responsabilizado por eventuais governos ruins que produzisse.
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Então, há muita lógica política na decisão do presidente em fugir do primeiro turno. Observe que a frase de Bolsonaro em sua postagem no Facebook deixa aberta a porta para participação no segundo turno. Aí já estará desenhado o tamanho da onda conservadora nos municípios e as disputas estarão polarizadas, com menos desgaste nas escolhas.
Aqui em Santa Catarina, a decisão de Bolsonaro talvez sele a sorte de candidaturas abrigadas em pequenos partidos e que contam com o bolsonarismo para equilibrar forças com a política tradicional. Os candidatos a Moíses, digamos assim, por serem nomes com pouca ou nenhuma experiência eleitoral. Alguns, no entanto, terão ao seu lado a militância bolsonarista organizada – ligada a deputados e/ou movimentos conservadores. Será também um teste para averiguarmos a força desse grupo.
Nessa situação é possível perceber algumas candidaturas nas principais cidades do Estado. Em Florianópolis, o construtor Hélio Bairros, ex-Sinduscon, pré-candidato do Patriota, vai se consolidando na tentativa de ocupar essa raia, como informou o colega Renato Igor. Em Joinville e Blumenau, no entanto, ainda são muitos os nomes – tanto que aparentemente são os candidatos do Novo, o empresário Adriano Silva e o promotor Odair Tramontin, respectivamente, que parecem ocupar esse espaço na pré-campanha. O caso mais curioso, no entanto, é o da jornalista e advogada Júlia Zanatta (PL), em Criciúma. Bolsonarista de carteirinha, ela tem tudo para suprir a ausência de Jair Bolsonaro em sua campanha por um número bem simbólico: 03, o codinome do deputado federal e terceiro filho Eduardo Bolsonaro, que já foi duas vezes ao Sul do Estado a convite da pré-candidata.
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