Há quatro anos, Pedrão Silvestre surpreendeu a política de Florianópolis ao ser reeleito vereador com a maior votação da história de Santa Catarina. Foram 11,1 mil votos conquistados em uma campanha que já apontava precocemente para a importância das redes sociais na conquista do do eleitor. Filiado ao PL e com um discurso que mistura a crítica ao prefeito Gean Loureiro (DEM) e a tentativa de fugir das disputas ideológicas entre direita e esquerda, Pedrão quer surpreender novamente. No dia 14 de setembro, ele deve ser confirmado na convenção do PL como candidato a prefeito da Capital nas eleições 2020.

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Na entrevista a seguir, ele fala do novo projeto, avalia a atual gestão, fala sobre a relação com o Amin – antigos correligionários no PP, do qual saiu rompido ano passado – e as chances de aliança com o MDB do senador e ex-prefeito Dário Berger.

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O senhor é o vereador mais votado da história de Santa Catarina e agora almeja um passo além, ser prefeito de Florianópolis. Qual o espaço que a candidatura Pedrão quer ocupar?

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O meu espaço dentro da composição atual é o de um jovem preparado, capaz, que estudou adminstração pública com foco em gestão de cidades, que entregou para a cidade um mandato técnico na Câmara de Vereadores e que foi agraciado com uma votação recorde, mostrando que a linha de trabalho estava correta, desempenhado as funções que devem ser de vereador, entregando soluções para os problemas da cidade, fazendo denúncias e fiscalizações que devem ser feitas. Cito a Ave de Rapina (operação da Polícia Federal em 2012), o pedido de impeachment e a rejeição das contas do ex-prefeito Cesar Junior. Mesmo com o meu antigo partido (PP) tendo apoiado Cesar Junior, eu tive meu posicionamento nos pontos falhos, que foram muitos. Meu posicionamento nesta eleição é de ser justo nas tomadas de decisão em favor da cidade.

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Na seu mandato o senhor fez, na prática, oposição a Cesar Junior, mesmo com seu partido no governo. No segundo mandato, é oposição a Gean Loureiro desde o primeiro dia. Está preparado para deixar de ser pedra e virar vidraça?

Com toda certeza. Quem busca um cargo maior, um posicionamento maior, poder entregar mais pela força de um cargo como o de prefeito, claro que vai ser atacado. Ainda mais que não tenho a polarização política entre direita e esquerda, não tenho um rótulo “o Pedrão é de esquerda” ou o “Pedrão é de direita”. O Pedrão é de todo mundo. O pessoal de esquerda não quer me deixar ganhar voto na esquerda, o pessoal de direita não quer me deixar ganhar voto na direita. Eu vou apanhar dos dois lados, mas tenho consciência de que o melhor para Florianópolis é entregar administração. Falta gestão na cidade.

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Mas se não está na direita e nem na esquerda, onde está o Pedrão?

Estou pelo certo. Não consigo ver uma ideia boa, um projeto bom, mesmo da esquerda ou da direita, do Lula ou do Bolsonaro, e não colocar esse projeto em prática porque vem com ideologia. Os bons projetos têm que ser colocados em prática, seja quem for o pai da criança. Isso para mim é ser justo.

O seu atual partido, o PL, apoia o presidente Jair Bolsonaro no Congresso e tem como presidente estadual o senador Jorginho Mello, defensor de Bolsonaro, além de estar servindo de abrigo para bolsonaristas que deixaram o PSL nestas eleições municipais de SC. O senhor está confortável no PL?

O PL me deu uma autonomia muito grande, foi uma das condições para eu ir para lá. O que eu vejo de positivo é a aproximação com o governo federal. Como vereador eu consegui 50 mil testes (de covid-19) com o Ministério da Saúde, conseguimos 30 mil comprimidos de cloroquina. Conseguimos a homologação de 200 leitos de UTI que a prefeitura recusou por três oportunidades, de ofício, no olho do furacão. Tive reunião com o ministro da Defesa para resgatar o Hospital da Base Aérea abrindo para a comunidade do Sul da Ilha. Estou tendo várias agendas com pessoas importantes. O Festival Audiovisual do Mercosul (FAM) não ia acontecer este ano não fosse essa possibilidade de chegada no governo federal pelo deputado federal Daniel Freitas (PSL) e o senador Jorginho Mello. Quando se tem essa oportunidade, não significa concordar com tudo que o governo faz. Não é do meu feitio fazer isso, já comprovei com Cesar e Gean. Tenho várias críticas ao Bolsonaro, mas também vários elogios. Na minha visão é fundamental que Florianópolis tenha a capacidade de contar com os eixos superiores de governança, porque os recursos estão concentrados no governo federal.

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As últimas quatro eleições de Florianópolis foram polarizadas entre os Amin (PP) e Dário Berger (MDB), diretamente ou com aliados concorrendo. Com o afastamento do prefeito Gean Loureiro de Dário, esses dois grupos estão soltos, podendo compor entre eles ou até contigo. Existe possibilidade de o senhor compor com Esperidião/Angela Amin e Dário Berger?

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O que me interessa muito é o conhecimento que eles têm sobre a cidade. Isso jamais pode ser descartado. Eu tinha uma excelente relação com Sérgio Grando (prefeito de Florianópolis entre 1993 e 1996 pelo PPS, morto em 2016). Tenho uma relação boa com a Angela Amin, mesmo tendo saído do PP. Tenho uma relação boa com Dário Berger, com todos os ex-prefeitos que eu peguei. Edison Andrino (prefeito de 1986 a 1988 pelo MDB), tive a possibilidade de conhecer e conversar por n oportunidades. Acho importante demais contar com esse apoio, sim. Não só do ponto de vista eleitoral, mas pela experiência também.

Sua saída do PP, anunciada ainda em 2019, foi ruidosa. Disse que não via possibilidade de conduzir seu projeto no partido por causa dos Amin. Angela Amin reclamou disso na entrevista que me concedeu. Acha que podem estar juntos na eleição?

Eu saí do PP porque tenho um projeto que não é mais meu e seria muito injusto com todos os apoiadores que nós temos não colocar esse projeto em prática. Desde que entramos na Câmara em 2013, o plano era ter dois mandatos de vereadores, sou contrário a mais do que isso. Quando eu percebi que no PP eu não teria condições de ser o candidato do partido, porque sofreria um intervenção, que foi o que aconteceu neste momento, o diretório foi destituído e colocado uma comissão provisória, eu optei por sair. Eu me tornei adversário político ao invés de inimigo. Quando falei isso na reunião do PP estavam todos presentes. Disse que saía com o sentimento de gratidão pelo tempo que estive lá e pelas oportunidades que tive, mas que sabia que se continuasse no PP a chance de virarmos inimigos seria gigantesca, porque eu não aceitaria traição e brigaria até o fim para ser candidato. Disse que preferi antecipar isso e me tornar adversário de urna para não virar inimigo.

O senhor tem diálogo com algum dos Amin? Esperidião (senador), Angela (deputada federal), João (deputado estadual)?

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Tem diálogo, tem respeito, tem reconhecimento por tudo que fizeram pela cidade. Acho que fizeram muito pela cidade, mas acho que é o momento de olhar para trás, ver o que fizeram e trazer para uma vertente mais atualizada.

Como o senhor vê as possibilidades de aliança na sua candidatura hoje?

É possível, desde que tenha diálogo e sabendo o papel de cada um dentro da gestão da cidade. Não vejo o PP como inimigo, tenhos muitos amigos e conselheiros lá, como o Gilson dos Santos (ex-deputado estadual e ex-conselheiro do TCE), o Alcino Vieira.

E com o MDB?

Tenho uma conversa boa com o Dário, um amigo muito grande que é o (vereador) Celso Sandrini e tenho conversado muito nos últimos meses com o Tiago Silva (ex-vereador, diretor do Procon-SC), que é muito meu amigo também.

O senhor sente a necessidade de compor com partidos tradicionais como estes para ter viabilidade eleitoral?

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É uma eleição complicada, não sei dizer se uma composição vai conduzir a uma vitória ou uma derrota. Acredito mais na força de um projeto. Nós temos projeto, capacidade e excelentes nomes para compor governo só com o PL. Cito aqui para vice o Eduardo Usuy (ex-Novo, candidato a deputado federal em 2018), engenheiro, técnico, especialista na área de finanças. Temos também a Lirous (K’yo Fonseca Ávila), que é ligada à tecnologia e cultura, que seria uma possibilidade mais irreverente, mas também com muita responsabilidade. Então, temos dentro do próprio PL um mix de pessoas que tem capacidade grande de entrega para a cidade. Em outros partidos reconheço que também temos nomes bons. Eu cito o Antonio Miranda, do MDB, excelente profissional na área da medicina, uma pessoa honrada dentro da cidade. No PP eu fiz o convite ao próprio Antonio Chraim, que há tanto tempo é procurador da Câmara de Florianópolis, tem um legado. Gilson dos Santos também, também, que traria experiência e inteligência política, para não cometer os erros que alguns governos estão cometendo de não ter relação política. Uma gestão tecnocrata é engessada porque boa parte das decisões necessitam de amparo político.

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Pedrão seria vice de Angela Amin?

Eu tenho um projeto de prefeitura que não é mais meu, é de muitas pessoas. Essas pessoas acho que não aceitariam.

Por que Gean Loureiro (DEM) não deve ser reeleito prefeito?

Considero que a gestão 100% política de Florianópolis leva nossa cidade à falência. A gestão Gean Loureiro, por mais que tenha entregue algumas obras, é uma gestão que comprometeu Florianópolis por uma década. Todas essas obras que estão saindo agora são feitas de maneiras irresponsável, de baixa qualidade e comprometendo três administrações com taxas de juros enormes. O Gean está fazendo obra agora que ele não pagou nem a primeira prestação. É uma gestão que não tem transparência. A população só é chamada a participar da gestão para pagar o carnê do IPTU, o ISS e a taxa de lixo, é uma gestão que não convida as pessoas a participar, só a pagar a fatura. Temos que aprender com o setor tecnológico, onde a gestão é sempre colaborativa. Florianópolis tem condições de ser a melhor cidade do mundo, a mais bonita já é. Falta o gestor ter humildade e ouvir todos os segmentos que compõem Florianópolis, especialmente o que mantém a cidade em pé, que é o setor produtivo.

A campanha eleitoral pode acontecer paralelamente a um processo de impeachment contra o governador Carlos Moisés (PSL) e a vice Daniela Reinehr (sem partido). O senhor acha que eles merecem impeachment?

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Até que me provem o contrário, o governador é uma boa pessoa. Sei que teve um erro do governo dele, que não sei se ele sabia, dos respiradores (se refere à compra dos 200 respiradores de UTI por R$ 33 milhões pagos antecipadamente por uma mercadoria nunca entregue), mas isso não é o fruto do pedido de impeachment (o primeiro processo de impeachment a ser analisado é sobre a equiparação salarial supostamente irregular dos procuradores). O que aconteceu com os respiradores na minha convicção é inaceitável, inclusive as pessoas que estavam com envolvimento direto foram presos. O governador deve vir a se explicar um pouco mais sobre esse questão. Mas o pedido de impeachment atual eu enxergo como um grande ato político para fazer a cassação de Moisés. Vejo interesse de outras lideranças políticas de assumir o mandato. Lideranças que não conquistaram votos suficientes na urna e que querem, com a força do regulamento, ocupar o cargo de governador. A eles deixo um conselho: tenham coragem de disputar a eleição e ganhar nas urnas.

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