Por duas vezes os principais partidos de esquerda de Florianópolis se reuniram em uma única chapa na disputa pela prefeitura. Em 1992, elegeram Sérgio Grando (PPS), numa época em que ainda não havia segundo turno. Em 1996, repetiram a dose, mas viram Afrânio Boppré – PT na época, hoje vereador pelo PSOL – se derrotado na segunda votação por Angela Amin (PP). Desde então, nunca mais a esquerda alcançou esse protagonismo na Capital. Quatro colocado em 2012 e terceiro em 2016, Elson Pereira (PSOL) tentará mudar essa escrita liderando uma frente com os principais partidos de esquerda da cidade. Na entrevista que me concedeu, o psolista diz o que falta para confirmação da frente de esquerda, a disputa pela vaga de vice entre PT e PCdoB, fala sobre como conquistar o eleitorado fora do campo ideológico e avalia a gestão do prefeito Gean Loureiro (DEM).
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Leia a entrevista:
Nas eleições de 2016 faltaram quatro pontos percentuais, cerca de 11 mil votos, para que o senhor colocasse a esquerda no segundo turno de Florianópolis pela primeira vez desde 1996. É esse resultado que gerou esse esforço para que em que 2020 não haja divisão entre as candidaturas de esquerda?
É com base nos números de 2016, mas também nos das eleições anteriores. Em 2012 os também foram semelhantes, historicamente a esquerda tem demonstrado estar em torno de 30% dos votos em Florianópolis. Agora com essa frente que estamos colocando é mais ampliada do que propriamente uma frente única de esquerda. Existem partidos de centro-esquerda que ampliam essa possibilidade. Com certeza, essa foi um critério importante. Mas acredito que toda a construção pós-2018, em função do segundo turno das eleições presidenciais (quando Bolsonaro venceu Fernando Haddad por 75,9% a 24,1% em SC, mas a esquerda teve um resultado melhor em Florianópolis, onde o petista teve 35,1% dos votos contra 64,9% do atual presidente) fortaleceram os partidos (de esquerda) para que se mantivessem juntos. É um projeto muito maior do que a minha chegada à prefeitura de Florianópolis, é um projeto de posição e de visão de mundo.
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O que falta para fechar a frente de esquerda? Nas última semanas está evidente a disputa pela vaga de vice entre o PT do vereador Lino Peres e o PCdoB de Janaína Deitos. O que falta para definir isso?
Acho que falta muito pouco. O mais importante é a disposição muito forte de todos os partidos de estarem juntos. A definição do vice é muito importante, mas a gente sente muito forte nas nossas reuniões que todos entendem que a prefeitura vai precisar de todos os partidos, não só do vice-prefeito. Falta pouco porque há boa vontade de todos os partidos.
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Sempre houve muitas rivalidades entre os partidos de esquerda em Florianópolis. A partir de que momento vocês começaram a sentar para conversar e buscar essa convergência?
Eu não tenho dúvida de que o foi o antibolsonarismo nos uniu. A conjuntura nacional impôs às forças democráticas a necessidade de uma tática única porque percebemos que as perdas diante do bolsonarismo são muito grandes no ponto de vista de direitos, da constituição do Estado, do serviço público. O que nos uniu, primordialmente a partir de 2018, foi uma unidade tática para combater o bolsonarismo. E uma vontade muito forte de estar juntos e não olhar para o retrovisor. A construção de um projeto de cidade tem que ser muito maior do que qualquer coisa que tenha ficado no passado.
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Todos os partidos têm algum pecado…
Todos, não dá para apontar o dedo para ninguém porque todos os partidos têm algum pecado.
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Um olhar sobre as eleições anteriores mostra que uma candidatura unificada de esquerda tem reais condições de chegar ao segundo turno, mas que para ganhar a eleição será preciso ganhar parte do eleitorado que não é de esquerda. O que vocês vão dizer para esse eleitor?
O que nós temos a mostrar para a sociedade de Florianópolis é que a cidade como se apresenta hoje é resultado de políticas que são presas ao século 20. Falo isso como urbanista. O que nós vamos mostrar é que nossa proposta vai trazer Florianópolis para o século 21 – tanto do ponto de vista de território quanto de política de administração. Não é possível que nós ainda tenhamos pensamento de que uma política pública de governo possa ser estar centrada em asfaltamento de ruas. Precisamos pensar muito mais do que isso. Não digo que isso é um detalhe, mas é um elemento que vem atrás de um projeto maior de cidade. Queremos mostrar para o eleitor de centro e direita que a cidade será melhor, a cidade ficará boa, ficará contemporânea. Está muito na moda o conceito de cidade inteligente. A cidade inteligente é a que serve a seus habitantes como um todo.
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Pensando na governabilidade de uma gestão com prefeito de esquerda, o senhor acredita que é possível eleger quantos vereadores com a frente de esquerda?
Nós nunca tivemos um exército de candidatos tão grande. O PDT está saindo com uma chapa cheia, o PSOL está saindo com quase 30 candidatos, o PT idem, PCdoB também. Acreditamos que se chegarmos a algo em torno de oito a dez vereadores (a Câmara de Florianópolis tem 23 vereadores), nós teremos governabilidade, porque muitos vereadores, mesmo não estando alinhados com o prefeito, alguns se alinham com a cidade, com boas propostas. A gente vê isso no atual mandato.
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O senhor disputou as eleições em 2012 em chapa pura do PSOL, praticamente desconhecido, e fez 14% dos votos. Em 2016, fez uma aliança com PV e Rede e chegou a 20%, muito próximo do segundo turno. Agora, será candidato de uma coligação com praticamente todos os partidos de esquerda. Como será ser candidato da frente de esquerda e não apenas do PSOL ou de uma pequena aliança?
Sou candidato da frente por unanimidade. Fui tanto indicado por unanimidade no PSOL, o que nunca é muito fácil em qualquer lugar do Brasil, porque é um partido de tendências. Mas em Florianópolis eu fui indicado por aclamação. E entre os partidos e agremiações, que são dez na frente, também por unanimidade indicaram meu nome. Eu me sinto honrado com essa indicação e ao mesmo tempo com muita responsabilidade. É um leque muito grande de partidos e é claro que existem diferenças. Vamos ter um cuidado muito grande de fazer um trabalho coletivo. Tenho falado que não sou mais o candidato a prefeito pelo PSOL, sou o candidato de toda uma frente, tenho uma centena de candidatos a vereador para dar atenção. É responsabilidade e ao mesmo tempo a certeza de que temos quadros competentes para governar a cidade.
Por que Gean Loureiro (DEM) não deve ser reeleito?
Ele ainda tem uma maneira atrasada de governar, de fazer política. Sua relação com a Câmara de Vereadores, que eu tenho acompanhado muito, beira ao desrespeito. Não trata a Câmara como um ente político autônomo e que tem seu papel específico que não é ser submissa ao Executivo. Segundo, eu acho que Florianópolis perdeu – e isso não é apenas ele, vem de algum tempo – a capacidade de planejamento. A cidade não se planeja, ela reage a problemas. A cidade não tem uma perspectiva de 10 ou 15 anos, ela age no imediato. O caso mais claro para mim foi a reinauguração da Ponte Hercílio Luz, uma obra do governo do Estado. A ponte ficou pronta e não existia qualquer planejamento para aproveitar aquele equipamento caríssimo e estruturante para a cidade. Se colocaram alguns pavers na cabeceira da ponte e nada mudou do ponto de vista estrutural. Quando eu falo que nós somos ainda uma cidade presa ao século 20, é à primeira metade do século 20. O século 21 não chegou aqui ainda. Temos questões muito marqueteiras ainda.
A eleição municipal tem tudo para caminhar paralelamente a um processo de impeachment contra o governador Carlos Moisés (PSL) e a vice Daniela Reinehr. Quero saber o que o senhor acha deste processo em si e se entende que ele pode influenciar a eleição de Florianópolis?
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Não podemos usar o impeachment como um terceiro turno de eleição. É preciso esse instrumento seja usado em situação em que realmente a gente tenha riscos do ponto de vista da administração pública. Eu acredito que o impeachment do governador tem um aspecto de terceiro turno muito forte. Claro que o processo influencia nossa eleição porque há uma relação com o governo federal. São dois PSL, um que fica no governo federal, outros que fica no governo estadual. Uma disputa quase interna.
O senhor acha que o bolsonarismo tem força eleitoral em Florianópolis nesta eleição?
Há um núcleo de uns 30% que entendo que permanece forte e o presidente da República fala diretamente a esse grupo. Quero acreditar que a gente vai vencer este momento em que as redes sociais vem sendo utilizadas, mesmo fora da lei, para decidir eleições.
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