Prefeita eleita de Florianópolis em 1996 e 2000, a deputada federal Angela Amin é uma das peças que faltam para desenhar o quebra-cabeças da eleição municipal de novembro. Há quatro anos, ela enfrentou o atual prefeito Gean Loureiro no segundo turno, quando foi derrotada por apenas 1.153 votos. Mais uma vez, é o principal nome do Progressistas para a disputa, mas afirma que essa decisão ainda não foi tomada e que é necessário discutir um projeto para a cidade antes de definir nomes. Nesse projeto, cabe até mesmo dialogar com o adversário histórico MDB do senador Dário Berger. Em entrevista exclusiva, ela fala sobre a rivalidade com os emedebistas, critica Gean e diz achar difícil uma composição com o pré-candidato do PL, o vereador Pedrão Silvestre, ex-Progressistas.

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Leia a íntegra da entrevista:

Todos os cenários sobre a eleição de Florianópolis trazem a dúvida sobre a sua participação na eleição. A senhora já tem essa decisão?

Eu tenho conversado bastante, claro que menos por causa desse isolamento. As conversas que eu fiz sempre foram colocando a importância de um projeto, que já estamos construindo independente de ter candidatura ou não. A nossa contribuição com a composição política é ter propostas claras para a cidade. Nisso estamos trabalhando há algum tempo. Entendo ser de fundamental importância não falar unicamente em nomes. O cenário político é complicado, acho que a gente tem que esperar um pouquinho como fica a situação do governador (com o processo de impeachment), se isso interfere ou não na eleição. Entendo que dentro de 15 dias o partido deve tomar uma posição. Não necessariamente com o meu nome, mas com a minha participação intensa na campanha como sempre fiz. Independente de ser candidata ou não.

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Em 2016 a senhora foi derrotada por Gean Loureiro no segundo turno por uma diferença de 1.153 votos…

11 é o número do nosso partido, 53 é o ano que nasci, 1953. Tem um significado bastante importante (risos).

Imagino que a vontade de voltar de ser prefeita não diminuiu nesses quatro anos.

O meu compromisso com a cidade é grande, mas não é uma imposição. Hoje eu tenho um mandato, acho que estou fazendo um bom trabalho na Câmara dos Deputados, ajudando uma série de municípios. Não é aquela coisa de ir de qualquer jeito.

As eleições recentes de Florianópolis foram marcadas pela rivalidade entre os grupos políticos dos Amin e de Dário Berger, mas hoje o prefeito Gean se tornou um adversário de ambos. Como fica a antiga rivalidade e a possibilidade de aproximação?

Primeiramente é bom lembrar que o Dário já foi nosso parceiro (quando prefeito de São José, pelo antigo PFL, no final dos anos 1990, época em que Angela era prefeita de Florianópolis e Esperidião Amin, governador). O Dário nós conhecemos. Eu vi uma nota, não lembro onde, de que se houver acerto entre o PP e o Dário Berger vão colocar na rua tudo que falei do Dário. Todos os comentários que fiz a respeito do Dário foram políticos e não tem porque esconder. Foi uma colocação mesquinha de quem não sabe o que é fazer política. Ter adversários não impede o diálogo. A convivência no Legislativo traz essa aproximação. O Celso Maldaner (deputado federal, presidente estadual do MDB) senta exatamente atrás de mim. Sempre que temos sessão, converso com ele, brinco com ele, nos provocamos. Esse é um processo democrático. Não impede que tenhamos fileiras diferentes em nossos partidos. Agora, a conversa realmente há.

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A rivalidade histórica do PP com o MDB diminuiu, não é mais um empecilho?

Ela é histórica. Sempre foi o partido com quem nós disputamos em trincheiras diferentes. Isso não impede a conversa, o diálogo.

Acha que o eleitor pode estranhar se vocês estiverem juntos?

Eu não sei, não tenho essa avaliação. Sempre que me fazem essa pergunta, volto à eleição de 1985, quando montamos uma chapa em Florianópolis (Chico Assis, do PDS, com Manoel Dias, do PDT, de vice), com participação do PDT do Jaison Barreto que foi o grande adversário do Esperidião Amin na eleição de 1982 (na voltas eleições diretas para governador no fim do regime militar, Amin venceu Jaison, então no PMDB, em uma acirrada disputa definida por 12,6 mil votos). Ali nós não tínhamos a capacidade e nem meios de pesquisa na oportunidade para ir a fundo se aquela reação (Edison Andrino, do PMDB, venceu a disputa). Sempre ficou conosco aquela dúvida se foi uma reação por nos juntarmos aos adversários históricos ou foi uma manifestação por mudança como a que aconteceu agora em 2018? Para mim, fica a dúvida.

Como avalia o trabalho do prefeito Gean Loureiro em relação à pandemia?

Acho que o grande erro dos prefeitos do aglomerado urbano da Grande Florianópolis foi não terem sentado para tomar decisões conjuntas. Não adianta ter lockdown em Florianópolis se em São José, Biguaçu, Palhoça não também. A circulação de pessoas entre esses municípios é diária.

E em relação ao restante da gestão Gean?

Upiara, a Polícia Federal nunca bateu na minha porta (risos).

Hoje os três senadores – Esperidião Amin (PP), Dário Berger (MDB) e Jorginho Mello (PL) – não estão alinhados nem ao atual prefeito e nem à frente de esquerda que está em construção. Acredita que essas três forças possam se alinhar em apoio a uma candidatura?

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Não sei se tem essa conversa. Eu entendo que o Jorginho Mello tem compromisso com a candidatura do Pedrão. Só se ele romper o compromisso e vir para uma coligação. Aí eu não posso responder.

O vereador Pedrão (PL) saiu do PP justamente com a intenção de ser candidato a prefeito…

Saiu do PP com a desculpa de que os Amin não o deixavam crescer. Essa foi a desculpa. Ele era presidente municipal do nosso partido, organizou um diretório para ele. A maioria dos membros da executiva até um ou dois meses atrás eram dele. Jamais votariam em outro candidato na eleição de Florianópolis. E saiu dizendo que nós jamais o apoiaríamos. Ele esteve na minha casa. Dificilmente eu recebo alguém em casa para falar de política. Tem que ser meu amigo. Ele veio, primeiro com a justificativa de pedir desculpa pelo fato de não ter me apoiado para deputada federal. Eu não questionei, porque apoiou dentro do partido (Pedrão apoiou Leodegar Tiskoski em 2018). Deve ter apoiado pessoas com quem ele tem ligação e gratidão maior do que conosco. Eu disse isso para ele e disse que se o partido optasse por ele, eu estaria na rua para apoiar e torcer pelo sucesso dele na prefeitura. Em nenhum momento eu ou o João (Amin, deputado estadual) nos negamos a apoiá-lo. A única coisa que dissemos é que eram preciso ter primeiro um projeto para depois ver qual era a melhor alternativa de novo. E, de repente, ele pegou e saiu dizendo que nós não o apoiávamos.

É impossível que vocês estejam juntos na eleição?

Em política nada é inconciliável. Mas como ele disse que nosso nome e nossa posição política atrapalhariam e que por isso ele fez outra posição, eu não sei se ele vai nos procurar. Só se ele mudou de opinião.

Em nível estadual vivemos uma crise política com o pedido de impeachment contra o governador Carlos Moisés (PSL) que tramita na Assembleia Legislativa. A senhora é favorável ao impeachment?

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O governo faz uma compra de R$ 33 milhões com pagamento adiantado sem a garantia do recebimento e o governador não sabe? Fica a interrogação. Eu já fui gestora e tinha relatório financeiro na minha mesa todos os dias. Isso é gestão, é acompanhamento, é responsabilidade fiscal. Esse, eu entendo que não tem saída. O outro eu não defenderia, não (refere-se ao caso da equiparação salarial dos procuradores do Estado, tema do impeachment em andamento. O caso dos respiradores ainda não teve pedido aceito).

Como avalia sua atual mandato como deputada federal em relação às outras vezes que ocupou o mesmo cargo, eleita em 1988 e 2006?

Eu estou atuando em uma área em que até então não havia, fruto do mestrado que fiz no período em que não tive mandato. Meu doutorado foi uma curso com três vertentes: gestão, mídia e tecnologia. Então, fui para a Comissão de Ciência e Tecnologia. No meu primeiro mandato a atuação mais forte foi na área de educação, principalmente na relatoria da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. No segundo mandato foi para a área de desenvolvimento urbano para discutir lá as experiências como prefeita de Florianópolis, com o foco na relatoria do projeto de lei que definiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana e Transporte Pública. Nesta, o trabalho maior que fizemos foi como preparar o cidadão nas cidades para utilização dos sistemas de tecnologia a sua disposição. A chamada cidade inteligente. De nada adianta ter um monte de programas e sistemas implantados na cidade se não tivermos o cidadão preparado para essa utilização para melhoria de sua qualidade de vida. 

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