Em um episódio que talvez um dia os livros de história chamem de A Batalha do Voto Aberto, o Senado viveu na noite de sexta-feira um dos maiores impasses de sua história e inscreveu em suas páginas momentos de tensão, controvérsia e falta de decoro parlamentar. Às 22h15 a nova legislatura da Casa não havia conseguido dar início à votação do presidente da instituição e a sessão acabou suspensa até 11 horas deste sábado.
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O cabo de guerra já vinha estendido entre as duas candidaturas aparentemente mais competitivas – o ex-presidente Renan Calheiros (MDB-AL) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) desde a manhã, antes da cerimônia de posse dos eleitos. Como nenhum dos membros da mesa diretora da antiga mesa diretora se reelegeu, havia uma discórdia sobre quem deveria comandar a sessão de posse dos novos senadores e a eleição da mesa. Suplente na mesa diretora anterior, Alcolumbre assumiu o comando em vez do senador mais velho, José Maranhão (MDB-CE) – aliado de Renan.
Mais do que o comando da sessão, o que importava era a posição em relação ao requerimento que seria apresentado requisitando que a votação fosse aberta – pela primeira vez na história do Senado.
Nos bastidores, era claro que uma quinta vitória do desgastado Renan dependeria do voto secreto. O alagoano tem sido algo de protestos nas ruas e nas redes sociais contra sua volta ao comando do Senado. Alcolumbre e os demais pré-candidatos, o catarinense Esperidião Amin (PP) entre eles, viam no voto aberto a chance inédita de vencer Renan.
Impulsionado nos bastidores pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), Alcolumbre viu sua candidatura ganhar corpo e comandou as sessões de sexta. Sob protestos de Renan e aliados, colocou o voto aberto em votação. Enfrentou as teses de que a sessão preparatória não teria poder de deliberar, de que não deveria ocupar a função. Com ausência da maior parte dos contrários, o voto aberto venceu por 50 votos a 2.
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Foi o auge do impasse. Aliada de Renan, a senadora Kátia Abreu (PDT-MT) subiu à mesa e levou a pasta com os documentos com que Alcolumbre comandava a sessão. Foi chamado de usurpador por Renan e outros deputados, em momentos de tensão e ameaças fisicas. Os defensores do voto secreto alegavam que o plenário só poderia tomar decisões que contrariem o regimento interno do Senado em caso de unanimidade.
O clima continuou tenso enquanto os senadores se sucediam no microfone para chegar a uma solução para o impasse. Às 22h15, Alcolumbre estava sentado na cadeira de presidente e o voto aberto estava mantido. Ele suspendeu a sessão, sob protestos de quem o chamava de usurpador.