Pergunte ao amigo ao lado, ao parente no Whatsapp ou a si mesmo se gosta de política e a resposta provável é que não. Mesmo assim, o brasileiro vive a política por todos os lados – até quando acha que não. Na semana que passou, duas entidades catarinenses passaram por eleições internas que mimetizaram aspectos da política partidária tão criticada por aí.

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A mais concorrida delas foi a disputa pelo comando da OAB-SC. Os advogados protagonizaram o mais intenso e acirrado confronto dos últimos anos. A chapa de situação, liderada por Rafael Horn, venceu os oposicionistas de Hélio Brasil por apenas 140 votos – cerca de 24 mil profissionais foram às urnas. Com o resultado, o grupo que hoje comanda a entidade com Paulo Brincas vai para o terceiro mandato consecutivo à frente da OAB-SC.

É possível dizer que a onda de renovação que afetou a política brasileira e catarinense em outubro também teve efeito na disputa dos advogados e emparelhou corrida pela presidência da entidade. O sentimento de que era preciso mudar os que estavam no poder foi muito difundido e utilizado pela oposição, especialmente nas redes sociais, pegando carona nessa espécie de “que se vayan todos” que vivemos no ambiente político poucas semanas atrás.

Isso não foi totalmente espontâneo. O confronto situação/oposição e a ideia de renovação não é novidade, obviamente, e o grupo que hoje venceu com Horn já se aproveitou disso quando assumiu o controle da entidade em 2012, na vitória de Tullo Cavalazzi – desalojando o grupo que comandara a OAB-SC o Adriano Zanotto e Paulo Roberto Borba. A novidade é uma espécie de profissionalização nessa disputa – aos moldes político-partidários.

A oposição liderada por Hélio Brasil acrescentou à disputa uma agência de publicidade e estratégias de redes sociais que foram bem-sucedidas nas últimas eleições estaduais e nacionais. O grupo de Horn conseguiu reagir e manter o comando, mas levou um susto. A diretoria que assume em janeiro sabe que precisará trabalhar a comunicação e a comunicação direta com os advogados – algo que os políticos mais antenados já estão tentando também colocar em prática.

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A outra disputa se deu em um front complemente diferente: os praças da Polícia Militar. Criada há 17 anos, a Aprasc viveu internamente o clima de confronto entre direita e esquerda que tomou conta do Brasil – especialmente no segundo turno entre o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e o oponente Fernando Haddad (PT). A entidade sempre teve em seu comando policiais simpáticos à esquerda. O ex-deputado estadual Sargento Soares dirigiu a Aprasc e fez os sucessores Elizandro Lotin e Edson Fortuna, atual presidente. Soares não disputa eleições desde 2014, quando concorreu a senador pelo PSOL.

Na disputa encerrada na quinta-feira, venceu o subtenente João Carlos Pawlick, da oposição. O nome da chapa é auto-explicativo: Endireita. Um dos motes do grupo vitorioso – com discreta torcida dos oficiais – era “tirar os comunistas” da entidade dos praças. Assim é a política. Ela cria ondas que permeiam toda a sociedade e seus espaços de disputa.

 

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