Não são poucos os políticos que devem estar perdendo o sono para entender como se prepararam para uma eleição como todas as outras e acabaram soterrados pela vitória histórica de um outsider como o governador eleito Carlos Moisés (PSL). Segundo colocado em disputa que perdeu por impressionantes 71,09% a 28,91%, Gelson Merisio (PSD) é apenas o mais evidente nome desta longa fila de caciques e postulantes que ficaram pelo caminho.

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O pessedista desenhou a eleição como quis e com seu próprio estilo. Construiu nos bastidores uma ampla aliança que isolava o MDB, escolhido como adversário, e outros pré-candidatos da centro-direita catarinense – Esperidião Amin (PP), Paulo Bauer (PSDB) e João Paulo Kleinübing (DEM), especialmente. Confrontou Raimundo Colombo (PSD), Júlio Garcia (PSD) e Jorge Bornhausen. Acabou derrotado pelo imponderável, mas terá todas essas faturas cobradas internamente. Ascendeu ao pequeno clube de catarinenses que já receberam mais de um milhão de votos em Santa Catarina e estadualizou o nome, mas vai enfrentar sem mandato a reação ao que poder que teve nos últimos anos. É injusto creditar ao pessedista maiores culpas. Em todos os Estados em que um político enfrentou a novidade no segundo turno, perdeu feio – Antonio Anastasia (PSDB) em Minas Gerais e Eduardo Paes (DEM) no Rio de Janeiro são eloquentes exemplos.

No MDB, Mauro Mariani ficou em terceiro lugar na disputa e isso tem sido creditado a erros da campanha e decisões pessoais do candidato – que parece ter gastado toda sua energia na disputa interna com o governador Eduardo Pinho Moreira e o prefeito joinvilense Udo Döhler para depois acreditar que a força do MDB o levaria inercialmente ao segundo turno. Pela forma como a eleição aconteceu, não dá para acreditar que outros emedebistas teriam desempenho melhor que Merisio contra Moisés. Talvez alguém com a chance de eleições majoritárias do senador Dário Berger (MDB) tivesse mais força para resistir à onda. Talvez.

Candidato a fato novo da disputa, o jovem ex-prefeito blumenauense Napoleão Bernardes foi escondido pelo PSDB na vaga de vice-governador na chapa de Mariani. A aliança MDB/PSDB foi comemorada como imbatível ao ser concretizada, mas mostrou-se analógica em tempos digitais. Napoleão e os tucanos devem olhar para o governador eleito Eduardo Leite (PSDB), quase um espelho do blumenauense, e lamentar o candidato derramado.

Há quem olhe esse cenário todo e tente pensar com cabeça de Luiz Henrique, acreditando que o erro dos políticos foi o de não repetir a consagrada fórmula do chapão com MDB, PSD e PSDB juntos, uma nova edição da bolorenta tríplice aliança ou com o PP no lugar dos emedebistas. Esses são os que menos entenderam o que aconteceu. Uma chapa com Bauer ao governo, Merisio de vice, Colombo e Amin ao Senado – aglomerando caciques, acumulando fundo eleitoral e alcançando uma obscena fatia de 80% dos programas eleitorais era um convite ao retumbante fracasso – como ensinou Geraldo Alckmin (PSDB) em nível nacional. O mundo mudou. Bem-vindo, novo mundo.

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