No dia 8 de novembro, Criciúma receberá a visita do embaixador Eduardo Bolsonaro. Sim, você não leu errado. Pelo dicionário Houaiss, uma das definições da palavra embaixador é “qualquer indivíduo encarregado de uma missão”. Após a frustrada tentativa de ser indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para comandar o posto diplomático nos Estados Unidos, o deputado federal do PSL paulista e terceiro filho assumiu a missão de ser o porta-voz do bolsonarismo. Uma missão nada diplomática.

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A fala desta quinta-feira, em entrevista à jornalista Leda Nagle, em que Eduardo Bolsonaro diz que um “novo AI-5” poderia ser a resposta à radicalização da esquerda, é parte dessa missão – satisfazer tentações autoritárias que existem tanto em setores do governo quanto na base de apoiadores do presidente Bolsonaro. Os Bolsonaros tentam dar feições claras ao que hoje chamamos meio genericamente de bolsonarismo – que é diferente de conservadorismo, liberalismo, direita. Há símbolos em jogo.

Como parlamentar, Jair Bolsonaro nunca se furtou a fazer a defesa dos regime militar que o país viveu de 1964 a 1985. É uma agenda pessoal, não ligada a agendas conservadoras, reformistas ou de mercado. É uma desforra. Esse sentimento obviamente não restou apenas no atual presidente. Há no povo brasileiro setores que aceitam e desejam o autoritarismo. O bolsonarismo vai fidelizar esse público de olho no primeiro turno das eleições de 2022, Eduardo Bolsonaro é o embaixador dessa missão.

Os movimentos das últimas semanas fazem parte dessa lógica. Primeiro, tomar o PSL do atual dono Luciano Bivar – o cacique político e pouco expressivo deputado federal pernambucano que emprestou a legenda para Bolsonaro e seus aliados concorrerem em 2018. Eduardo venceu a disputa interna na Câmara dos Deputados e tornou-se líder do partido após uma guerra de listas que serviu para depurar com quem eles podem contar no PSL. Se não conseguirem tomar a sigla de Bivar, está delimitado quem vai embora com os Bolsonaros para uma nova agremiação qualquer.

O segundo movimento afetou Santa Catarina – levar para as bases a depuração do PSL e a consolidação de quem é ou não fiel ao projeto bolsonarista nos Estados. Eduardo recebeu os quatro deputados estaduais que divergem da postura light do governador Carlos Moisés (PSL). Em um jantar em Brasília, foi tramada a mudança na liderança do PSL na Assembleia Legislativa.

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Agora, o embaixador Eduardo mira para fora do partido, para o eleitor suscetível à ideia de que o autoritarismo pode ser a resposta aos problemas que vão do desgaste da classe política a reboque de escândalos de corrupção até as amarras do Estado Democrático de Direito que impediriam maior celeridade na atuação do governo na área econômica.

É preciso ser claro. Quando se fala em AI-5, devemos ler “fechar o Congresso” e há, infelizmente, eco na sociedade para esse tipo de discurso. Quando se fala em AI-5, devemos ler dar superpoderes a um governo para combater seus inimigos – reais ou imaginários – e definir se contraponto quem são esses inimigos. O AI-5 é uma carta que não se usa nem como metáfora.

A reação da sociedade e das instituições a essa fala dará a medida da força da nossa democracia, mesmo que se trate de uma bravata. Integrantes de diversos partidos – inclusive à direita, como o Novo e membros do próprio PSL – logo criticaram a fala de Eduardo, fazendo coro às declarações de repúdio dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Há instrumentos para que seja punido. É possível que até uma eventual punição – a servir de combustível para a incendiar as bases bolsonaristas nas redes sociais – faça parte da missão do novo embaixador.

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