A sexta visita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a Santa Catarina teve como pano de fundo as mudanças nos contextos políticos nacional e estadual nas últimas semanas. Isso ficou claro nos discursos do presidente e também no do governador Carlos Moises (PSL).
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O catarinense manteve a linha de quem busca a reaproximação com aquele que foi mais do que um cabo eleitoral em 2018, foi um bilhete premiado. Para isso, além de cortesia e de estar a postos para abraçar Bolsonaro assim que ele chegou à Academia da Polícia Rodoviária Federal, Moisés focou seu discurso nos temas em que poderia fazer paralelos com o governo do presidente.
Renato Igor: O sorriso de Moisés a Bolsonaro em Santa Catarina
O foco da fala do governador foi a condição catarinense de Estado líder em geração de empregos, como quem quer convencer Bolsonaro de que por aqui as restrições impostas para combater a pandemia do coronavírus não negligenciaram a economia. Moisés fez questão de dizer que recebeu o governo com déficit orçamentário de R$ 1,2 bilhão e que ao fim do primeiro ano de mandato fechou a conta com R$ 161 milhões positivos – pontuando, assim, que assumiu o governo em más condições, assim como Bolsonaro assumiu o Planalto.
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Moisés falou em economia com revisão de contratos e mudança na forma de governar. Uma fala que lembrou muito os discursos de Moisés antes da conciliação política com o parlamento, um tanto diferente da mensagem lida na Assembleia Legislativa na terça-feira. Ou seja, em suas aulas de política o governador parece ter aprendido que se faz discursos diferentes para cada público. Depois de equacionar a política estadual, Moisés mostrou que ainda busca repactuar a relação com Bolsonaro, do qual se afastou voluntariamente durante 2019 e acabou sendo colocado em uma seleta lista de ingratos nos primeiros meses da pandemia, quando o presidente se sentia pessoalmente atingido pelas decisões e protagonismo dos governadores.
Bolsonaro comemora vitórias no Congresso e fustiga Maia
Pelo perfil de Bolsonaro, um presidente que confia muito pouco e em muito pouca gente, a reconstrução é uma tarefa difícil. Foi clara a provocação do presidente em seu discurso, quando disse que muita gente se elegeu com ele, mas nem todos foram bem. Bolsonaro citou a eleição de 2022 como “depuração”, com a eleição de legislativos e executivos “muito melhores que os atuais” e que “os bons sobreviverão”.
O discurso de Bolsonaro também é reflexo do momento político. Em tom mais sereno que o habitual, o presidente exibiu a tranquilidade de quem considera ter vencido uma das principais batalhas de seu mandato: a eleição dos aliados Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. Citou as vitórias, disse que torceu por elas e exaltou os placares amplos como prova de que a maioria do Congresso está com ele. Deu tempo de fustigar o caído adversário Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara. Ele não foi citado nominalmente, mas era clara a referência quando Bolsonaro disse que o parlamento não quis mais ser “refém de uma pessoa só” e que era esta pessoa que “criava alguns obstáculos” às pautas do governo.
Sem Maia, Bolsonaro está mais leve. Louvado pela militância bolsonarista em cada passo que deu em Florianópolis, sentiu-se em casa. Assim como na política de Santa Catarina a expressão da moda é “novo momento”, o Planalto prevê dias melhores. Curiosamente, os novos momentos de Moisés e de Bolsonaro foram costurados com o que há de mais tradicional e fisiológico nos parlamentos estadual e nacional. Como funcionarão esses governos tutelados pelo centrão e pela tradição política é o que se deve observar agora. Os sorrisos – foram muitos esta quinta-feira – sempre precedem as faturas a pagar.
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