Era bastante previsível que o encontro dos três governadores do Sul do Brasil em Florianópolis na tarde de quarta-feira não teria significado político maior do que a própria simbologia de reunir Eduardo Leite (PSDB-RS), Carlos Moisés (PSL-SC) e Ratinho Jr. (PSD-PR) para falar de ações em conjunto no pior momento da pandemia na região. As diferenças de perfil, ideologia e posicionamento dos governadores fizeram que sobressaísse o caráter técnico nas discussões.
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Neste momento da pandemia e da vida política nacional, os governadores de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná estão em posições diferentes do tabuleiro. O paranaense Ratinho Jr., por exemplo, é próximo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sendo considerado um dos comandantes estaduais ligados ao bolsonarismo. Moisés, sabemos todos, afastou-se do presidente que foi seu padrinho eleitoral em 2018 e agora faz de tudo para ser aceito de volta por Bolsonaro e seu séquito – sem muito sucesso até agora.
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Enquanto isso, o gaúcho Eduardo Leite tem sido colocado como uma aposta para disputar o Palácio do Planalto em 2022 como uma alternativa de centro – e não se omite dessa possibilidade. Essa condição já coloca o tucano na mira de Bolsonaro em discursos e dos militantes do presidente nas redes sociais. É do jogo – especialmente na forma como ele vem sendo jogado.
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Por essas diferenças, era improvável imaginar que de um encontro entre os três governadores do Sul pudesse sair uma declaração conjunta em um mesmo tom na seara política. Quem estava perto da mesa das autoridades na Casa d’Agronômica diz que até havia uma disposição inicial dos gaúchos de fazer uma contraposição ao Planalto na questão da compra de vacinas, mas que acabou amenizada pela posição de Moisés e Ratinho Jr.
Foi justamente a impossibilidade de ser um contraponto político ao governo federal que fortaleceu a reunião dos governadores do Sul. A presença via videoconferência do merecidamente contestado ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e de seu substituto Marcelo Queiroga deu ao encontro ares de efetiva reunião de trabalho.
A mudança de postura do governo federal em relação à prioridade da compra das vacinas praticamente aposenta a necessidade de uma corrida de municípios e Estados atrás de fornecedores – suspeitos ou não – dos insumos. Esse novo momento da batalha da vacinação fica claro com a posição do consórcio de governadores do Nordeste, majoritariamente de oposição, de repassar ao ministério as 37 milhões de doses da vacina russa Sputnik V que compraram.
Assim, para a vida prática de catarinenses, gaúchos e paranaenses em meio à pandemia, relevante é a decisão de integrar os sistemas dos três Estados para permitir compras consorciadas de insumos e medicamentos, além do manejo interestadual de equipamentos, transferência de pacientes quando necessário e, em último caso, a intermediação para aquisição de vacinas. O Sul não é nosso país, mas a troca de experiências e a ação conjunta tornam os três Estados um player mais forte diante do inimigo comum – que é o vírus.
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