Há pouco mais de um mês, uma polêmica decisão que devolveu às ruas um homem preso com um fuzil AR-15 deu repercussão nacional ao caso acontecido em Florianópolis e trouxe de volta à pauta os questionamentos sobre as audiências de custódia. Esta semana o tema deve ganhar destaque novamente, com a análise do mérito da questão no Superior Tribunal de Justiça.
Continua depois da publicidade
Esse foi um dos temas de meia hora de conversa que tive no final da semana passada com o presidente do Tribunal de Justiça, Rodrigo Collaço. A audiência de custódia é um instrumento em que o preso em flagrante é levado a um juiz, que avalia eventuais ilegalidades na ação policial e também se o caso justifica o encarceramento provisório. Foi esse o estopim da polêmica, que o leitor deve conhecer bem: a juíza Ana Luisa Schmidt Ramos entendeu que apesar do fuzil, o preso era réu primário e não oferecia riscos à sociedade.
Diante da repercussão negativa, o caso foi revisto pela desembargadora Bettina Maria Maresch Moura, que determinou a prisão no dia seguinte. O caso foi parar no STJ, onde o presidente concedeu habeas corpus ao preso por questões formais. O tema será analisado pelo ministro catarinense Jorge Mussi.
No café com Collaço, o magistrado ressaltou a velocidade da atuação do TJ-SC para reverter a medida e disse que se analisasse o caso teria decidido pela prisão pelos indícios de envolvimento do preso com facção criminosa. Mas faz uma ponderação.
– Muitas vezes as informações completas não chegam ao juiz na audiência de custódia, muitas vezes a investigação não é apresentada junto com o preso e o juiz não tem dimensão de tudo que cerca.
Continua depois da publicidade
Collaço fez uma defesa enfática do modelo de audiência de custódia e diz que a presença do modelo em todo o Estado é um dos motivos pelo menor número de prisões preventivas em Santa Catarina em relação ao resto do país.
– A audiência de custódia é injustamente polêmica. Ela tanto serve ao bom policial, porque o juiz vai constatar que a prisão foi feita de acordo com o respeito à integridade do preso, quanto também serve para o juiz fazer uma triagem sobre quem precisa ir para um sistema já superlotado e quem não precisa ir – avalia.
Sim ao pacote de Moro
Na conversa com o presidente do TJ-SC, Rodrigo Collaço, o magistrado também defendeu o pacote anti-crime do ministro Sérgio Moro, da Justiça, que classifica como extremamente positivo.
– Às vezes vejo que no Brasil as pessoas têm medo de mudar até o que não está certo. Há uma dificuldade muito grande de punir quem está no topo da pirâmide empresarial e política. O pacote tem propostas importantes.
Continua depois da publicidade
Falso debate
No entanto, outro debate nacional capitaneado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) não emociona o magistrado catarinense: a posse de armas.
– Tudo no Brasil está muito polarizado. Não acho que vá haver aumento expressivo de acidentes ou mortes causados pela posse da arma em casa. Como também acho que a segurança não aumenta por causa disso. Essa é uma questão que não resolve nosso problema que é o enfrentamento das organizações criminosas e o controle que elas têm dos presídios.