A derrota do governo Carlos Moisés (PSL) na aprovação unânime do relatório da CPI dos Respiradores que sugere a abertura de mais um processo de impeachment é daquelas cujo tamanho só conseguiremos medir com o desencadear de seus efeitos. Pode ser lido como um indicativo do destino – fatal – de um governo que não sabe fazer política ou como um gigantesco sinal de alerta. Depende do otimismo dos envolvidos.

Continua depois da publicidade

Na CPI dos Respiradores, o governo conseguiu errar do primeiro ao último dia. Não é modo de falar, é literal. A comissão foi aberta sem um integrante sequer que pudesse ser chamado de governista, constituindo desde a gênese um verdadeiro pelotão de fuzilamento. Na época, Paulinha (PDT) era líder de governo, mas ainda não havia sido tomado real conta da função. Por isso, não se obrigou e nem foi instada a tentar a presença na CPI – como agora lutou para estar na comissão do impeachment, mesmo sem sucesso.

Mesmo assim, o governo tinha com quem conversar na comissão. Alguns deles assistiram – meio atônitos, meio surpresos – a articulação palaciana pela apresentação de um parecer divergente ao do relator Ivan Naatz (PL) surgir exatamente na terça-feira, dia em que seria votado o relatório final.

Era tarde demais, inclusive por mérito de Naatz. O relator passou as duas semanas anteriores à votação articulando a aprovação unânime, aceitando apontamentos dos colegas de CPI – que até amenizaram o relatório, mas não tiraram dele a essência oposicionista. Quando o governo chegou, horas antes do início da reunião da CPI, não havia margem para piruetas. É preciso talento, experiência e muita capacidade de pressão para se fazer pirueta em política – três coisas que o governo Moisés não tem.

A aprovação unânime do relatório final da CPI dos Respiradores traz de volta o caso que é o emblema da crise política vivida pelo governo. São os R$ 33 milhões pagos pelos equipamentos nunca entregues que fragilizaram de vez Moisés junto à opinião pública e deram fôlego aos que sempre quiserem derrubá-lo. O jogo, no entanto, ainda está em andamento. Para sobreviver, o governo precisa tirar lições do episódio desta semana.

Continua depois da publicidade

Quer receber os textos de Upiara Boschi no WhatsApp? Clique aqui

Daniela se mexe

Daniela Reinehr na Alesc
Daniela Reinehr na Alesc (Foto: Fábio Queiroz, Agência AL/Divulgação)

Disposição não tem faltado a Daniela Reinehr (sem partido) na tentativa de manter-se no cargo de vice-governadora – ou, quem sabe, até uma promoção. Na terça-feira, ela visitou a Assembleia Legislativa pouco antes da leitura do relatório da CPI dos Respiradores. Esteve também na OAB-SC, sempre acompanhada da nova advogada, a bolsonarista Karina Kufa. Além disso, a vice parece ter reaprendido o caminho da Casa d’Agronômica, embora ainda esteja em fase de quebrar o gelo com Moisés.

Vontades

Kennedy Nunes acena no plenário da Alesc
Kennedy Nunes acena no plenário da Alesc (Foto: Fábio Queiroz, Agência AL/Divulgação)

“Eu queria prender gente”, lamentou o deputado estadual Kennedy Nunes (PSD) após a aprovação unânime do relatório final da CPI dos Respiradores. O pessedista culpou a lei do abuso de autoridade pela não tipificação de crimes ao governador Moisés e outros 13 nomes apontados como culpados pela desastrosa compra dos 200 respiradores fantasmas, mas essa foi a mesma lógica usada na CPI do Ponte Hercílio Luz – quem define os crimes é a Polícia Civil e/ou o Ministério Público. E foi, também, o que permitiu a unanimidade no relatório de Ivan Naatz (PSD). Mas se o deputado mantiver o ímpeto, ainda pode prestar concurso para promotor.

No vale

Em Blumenau, a raia dos políticos tradicionais está se acertado para as eleições de novembro. O ex-prefeito e ex-deputado federal João Paulo Kleinübing (DEM) e o empresário Ronaldo Baumgarten (PSD) formam uma das chapas – até live estão fazendo juntos. O prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) tem tudo para ter a ex-secretária Maria Regina Soar (PSDB) como vice. A ex-deputada estadual Ana Paula Lima (PT) acertou os ponteiros com o PSOL de Geórgia Faust. Na raia dos outsiders, os deputados Ivan Naatz (PL), Ricardo Alba (PSL), Odair Tramontin (Novo) e João Natel (PDT) tentam ser alternativa.

Concisas

– O jantar de Moisés para a bancada do PT pegou mal em grupos conservadores. Fiquem tranquilos, Daniela também andou conversando com petistas.

Continua depois da publicidade

– Jornalista Lauro Jardim escreveu que o senador Jorginho Mello (PL) perdeu pontos com Jair Bolsonaro por votar pela derrubada do veto ao reajuste do funcionalismo.

Receba os textos de Upiara Boschi no Telegram. É só procurar por “Upiara Boschi – NSC Total” ou acessar o link: https://t.me/upiaransc