Santa Catarina ganha uma oportunidade única com a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as intermináveis obras da ponte Hercílio Luz. Não é apenas a possibilidade de jogar luz sobre os gastos e contratos suspeitos celebrados ao longo dos quase 18 anos de interdição total da histórica estrutura que liga as regiões insular e continental de Florianópolis. É isso, mas também é uma chance de reconciliar a população catarinense com o monumento inaugurado em 1926.
Continua depois da publicidade
Mobilizado desde antes da posse como deputado estadual, Bruno Souza (PSB) conseguiu reunir as assinaturas necessárias para a CPI antes mesmo de completar uma semana de mandato.
Protocolado junto ao presidente Júlio Garcia (PSD), o pedido aguarda análise na procuradoria da Assembleia sobre a existência de um fato determinado a ser investigado.
Há muitos exemplos de comissões enterradas precocemente por falta desse foco – geralmente uma desculpa para evitar apurações que possam incomodar os governos de plantão – ou, por outro lado, as que se perdem justamente por querer abraçar muitas questões.
A CPI da Ponte Hercílio Luz precisa fugir de ambas essas armadilhas. Bruno Souza, provável relator, tem como robusta base de seu pedido os dados coletados pelo Ministério Público de Contas em inquérito que investiga o histórico das obras na estrutura.
Continua depois da publicidade
De certa forma, foi o procurador Diogo Ringenberg que pautou novamente o caso junto à sociedade quando divulgou o estudo que estimava em mais de R$ 500 milhões os gastos com uma obra nunca entregue, ainda em 2015.
Na época, a Hercílio Luz vivia um dos momentos de maior impasse nessa longa espera. Era quando o então governador Raimundo Colombo (PSD) rompia com a empreiteira Espaço Aberto, contratada em 2009, e tentava trazer a American Bridge – sucessora da empresa americana que construiu a ponta – para a reforma.
A polêmica e a situação da economia brasileira fizeram os americanos declinarem o convite, abrindo espaço para os portugueses da Teixeira Duarte serem contratados. Desde então, há uma obra que avança a olhos vistos – em ritmo menor durante a gestão de Eduardo Pinho Moreira (MDB) ano passado.
O contrato com a Espaço Aberto é alvo de inquérito no Ministério Público Estadual, que inclusive pediu bloqueio de bens de empresários e autoridades da época. Seria um fato determinado óbvio, embora redundante, para a investigação parlamentar. Bruno Souza defende que o leque seja mais amplo e que sejam apurados os contratos firmados em outros governos.
Continua depois da publicidade
– Nós precisamos ver onde os governos erraram como gestores públicos para impedir que isso aconteça novamente – diz.
O momento é mais do que propício. O governo de Carlos Moisés da Silva (PSL) não tem amarras com o passado e nem motivos para atrapalhar a CPI. O governador conheceu as obras da ponte e ficou animado com a possibilidade de entregar a obra no final do ano. Essa é a tarefa do Executivo. No Legislativo, a missão é resgatar o carinho dos catarinenses por seu cartão-postal.i