Durante todo o primeiro ano de mandato do governador Carlos Moisés (PSL), uma constatação fazia parte das recorrentes análises sobre o comportamento do bombeiro aposentado no mundo da política e da gestão pública: sortudo, Moisés não enfrentara uma única crise real – afora aquelas causadas pelos ruídos da articulação com partidos e o parlamento, que embora precisemos tratar constantemente aqui, sabemos não serem crises de verdade, daquelas que mexem imediatamente com a vida das pessoas.

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Pois 2020 trouxe para o governador a maior das crises dos últimos tempos. A pandemia, o vírus que assusta o mundo, chegou a uma Santa Catarina sob seu comando. O Brasil encara o coronavírus exatamente no momento em que boa parte de seus políticos foi eleita de forma aleatória, a bordo de um desejo de mudança que encontrou em Jair Bolsonaro um guia e no número 17 uma carta de referências. Ao longo de 2019, Moisés se desassociou do padrinho, buscou trilho próprio. O vírus coloca isso em outra dimensão.

Enquanto o presidente Bolsonaro titubeia entre minimizar o potencial do coronavírus e colocar a máscara no rosto, o governador tomou na semana que passou uma medida de coragem. Quando os catarinenses ainda começavam a assimilar que seria necessário mudar a rotina para dificultar a infestação, Moisés decretou, quarta-feira, o estado de emergência de fez o Estado parar – com exceção do que foi considerado essencial.

Um decisão duríssima. Agiu como líder em um momento em que precisamos que nossas autoridades sejam líderes – sim, leitor, você entendeu a quem se dirige a indireta. No futuro, esperamos que próximo, Moisés será elogiado pela postura ou cobrado pelo excesso. Não lhe caberá, em qualquer cenário, o rótulo de omisso. Era o tipo de carimbo que seus opositores em Santa Catarina vinham tentando aplicar ao governador – como se fosse mero zelador do Estado.

Em alguns momentos talvez Moisés tenha merecido a crítica. Diante da crise, quando ela chegou, portou-se como líder e tomou a decisão. Aguardaremos, ansiosos, outras duras decisões que o Estado pode e deve tomar para mitigar os efeitos da crise do coronavírus sobre a economia catarinense, especialmente na proteção dos empregos e dos empregadores de pequenas e médias empresas, tão vulneráveis neste momento.

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O Brasil, Santa Catarina, eu e você, o governador, ninguém será o mesmo depois que essa tempestade passar. Dizem que o verdadeiro líder é aquele que não está de pijamas quando a história lhe bate à porta. Moisés, indicam seus primeiros movimentos, estava fardado.

Texto publicado nas revistas DC, AN e Santa de 21/3/2020.