Não faz muito tempo, o MDB era o esteio da base parlamentar que o governador Carlos Moisés (PSL) montou na Assembleia Legislativa. O emedebista Luiz Fernando Vampiro era praticamente o líder informal do governo, atuando fortemente nos bastidores. Valdir Cobalchini estava afastado do partido, mas próximo do governo. Não foi surpresa que ambos fossem os primeiros cotados a assumir a liderança em 2020 – que não rejeitaram, apenas foram impedidos pela cúpula estadual da legenda.

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Antes mesmo da crise do coronavírus mudar todos os cenários e a vida das pessoas, já era possível ver alguns atritos nessa relação. Mesmo assim, não deixa de ser surpreendente que venham justamente de Vampiro e Cobalchini os gestos claros de que a bancada estadual do MDB perdeu a paciência com o governo Moisés.

Na segunda-feira, Cobalchini avisou o presidente da Assembleia, Júlio Garcia (PSD), de que não integrará mais o grupo criado para discutir soluções para a retomada da economia estadual durante e, especialmente, após a crise do coronavírus. Ele havia sido indicado como representante do Legislativo justamente pelo diálogo fácil com o Centro Administrativo. Não será substituído.

O grupo reúne nomes importantes do governo – os secretários Paulo Eli (Fazenda), Douglas Borba (Casa Civil), Ricardo de Gouvêa (Agricultura) e Lucas Esmeraldino (Desenvolvimento Econômico) – e de entidades do setor produtivo, além de Alesc e Ministério Público de Santa Catarina. Cobalchini esperava não apenas que as posições do grupo ecoassem mais fortemente no governo, mas também que o grupo fosse ouvido antes de Moisés anunciar o novo grau de restrições ao comércio.

Seu gesto foi amplificado pela fala do colega Vampiro na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta terça-feira. Cabia ao emedebista relatar o projeto do governo para subsidiar juros de empréstimos para micro e pequenos empresários no Badesc. Vampiro lamentou que o governo tenha ignorado projeto de teor semelhante apresentado por ele, endossado pelos outros 39 deputados e aprovado na segunda semana de sessões virtuais da Alesc. Chegou a dizer, em tom de desabafo, que “esse governo chuta nossos projetos” e de ser “um governo que não trabalha no momento em que tem que ser”. Tom muito diferente de setembro do ano passado, quando recebeu Moisés em Criciúma e disse ter "muito orgulho desse governador". Vampiro acabou votando a favor da continuidade da tramitação da proposta, mas lamentando que não tenha havido um trabalho conjunto para aprimorar o projeto já analisado e aprovado na Alesc.

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Na sessão, há tarde, outros emedebistas ecoaram críticas à participação do secretário da Saúde, Hélton Zeferino, convocado para explicar ações do governo no combate ao coronavírus no início da tarde de terça-feira. Ele não convenceu os deputados sobre a contratação de um hospital de campanha que será instalado em Itajaí, no valor de R$ 76 milhões. Dúvidas que geraram a aprovação unânime para que Zeferino volte junto com o secretário João Batista Cordeiro Junior, da Defesa Civil, para explicar pontualmente esse caso. Não é temerário dizer que uma das vítimas do coronavírus no Estado deve ser a frágil base governista de Moisés no parlamento.