Em novembro de 2013, o deputado estadual Romildo Titon (MDB) estava prestes a viver o auge de uma longa carreira política quando conheceu o fundo do poço. Para ser mais exato, no dia 28 de novembro daquele ano, quando às vésperas da posse do emedebista como presidente da Assembleia Legislativa foi deflagrada a Operação Fundo do Poço.

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Passados mais de cinco anos, na noite deste dia 13 de dezembro de 2019, o Tribunal de Justiça enfim concluiu o julgamento de um dos casos mais rumorosos da política catarinense contemporânea. O Titon que os magistrados do Órgão Especial do TJ-SC condenaram a 10 anos e um mês de prisão por corrupção e colaboração com organização criminosa não é mesmo do final de 2013.

Naquele momento, o emedebista se preparava para assumir o comando da Assembleia Legislativa, fruto de um acordo de divisão de mandato com o então presidente Joares Ponticelli (PP). A inédita aliança entre MDB e PP era apenas um dos percalços enfrentados por Titon para alcançar o posto que os emedebistas não tocavam desde 1988. Na época, o deputado estava em seu quinto mandato e tinha deixado a condição de parlamentar paroquial por causa dos quatro anos no comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais poderosa da Casa.

Tudo desmoronou com a eclosão da Operação do Fundo do Poço. Foi vinculado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) a um esquema de a fraudes em licitações para perfuração de poços artesianos nas regiões do Planalto Serrano e do Meio-Oeste. Insistiu em assumir a presidência e o fez em 3 de fevereiro de 2014, no fim do recesso parlamentar, quando Ponticelli cumpriu sua parte no acordo e renunciou ao cargo.

Com voto dos 40 deputados estaduais, Titon foi eleito e tentou mostrar força – em seu discurso partiu para o contra-ataque, questionando a investigação liderada pelo MPSC. O gesto saiu pela culatra, foi encarado como afronta. Apenas 23 dias depois, o TJSC aceitou o pedido de afastamento do emedebista do cargo – inicialmente por 180 dias.

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Em abril daquele ano, os magistrados decidiram mantê-lo afastado – 11 votos a 10, mesmo com a pressão de lideranças estaduais emedebistas. Em agosto teve a volta ao cargo autorizada pela Justiça, mas preferiu manter-se licenciado enquanto concorria à reeleição como deputado estadual. Reassumiu apenas dia 7 de outubro, logo após as urnas lhe confirmarem o sexto mandato de deputado estadual.

Manteve-se na Alesc, mas longe dos holofotes que almejou. Ano passado, conquistou mais uma vitória nas urnas, sobrevivendo à onda de renovação impulsionada pela ampla vitória do presidente Jair Bolsonaro entre os catarinenses. Ficou com a última vaga do MDB, a 2 mil votos da suplência.

Neste ano, conseguiu recuperar espaço perdido. Reassumiu, por indicação da bancada emedebista, a presidência da CCJ. Foi um dos principais defensores da aproximação do MDB com o governador Carlos Moisés (PSL). Disse, em discurso no Meio Oeste, que a posição era a de quem tinha “entendido o recado das urnas”.

A volta de Titon à ribalta política coincidiu com julgamento da Operação Fundo do Poço. Manobras jurídicas foram tentadas para protelar o desfecho, em vão. Agora, cabem recursos ao próprio TJ-SC e tribunais superiores. O emedebista volta a viver o pesadelo de novembro de 2013.

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