O esporte preferido da elite do funcionalismo estadual – aquelas carreiras com salários na faixa dos R$ 30 mil – é olhar o contracheque de categorias integrantes desse Olimpo em busca de valores que possam pleitear também. É recorrente esse tipo de tema para quem acompanha a vida cotidiana dos poderes. Chega a ser irônico que esse esporte tão comum possa agora ser o responsável pelo impeachment do governador Carlos Moisés (PSL) e da vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido).
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A chamada “verba de equivalência” de cerca de R$ 5 mil paga no fim do ano passado pelo governo para que o salário dos procuradores do Estado fosse equiparado aos da Alesc é um caso cheio de pontos obscuros, decisões oblíquas e insatisfação de categorias não atendidas. Não é a primeira vez que acontece e ficou mais explícito a partir do fim do auxílio-moradia pago nos poderes Judiciário e Legislativo, que levou o Tribunal de Contas – também atingido – a derrubar o análogo auxílio-combustível pago no Executivo. Isso desequiparou os salários dos procuradores do Estado com os da Alesc e gerou o pleito pela verba de equivalência. Está tudo ligado, leitor.
A novidade da vez é a fragilidade de um governo que se elegeu pregando uma nova política, mas que não conseguiu fazer nenhuma. Casos assim, até maiores, foram assimilados ou ignorados por parlamentos em que o governante tinha sólida base política. Quando Raimundo Colombo (PSD) usou a Celesc para pedalar R$ 1 bilhão em ICMS, dando calote nos poderes e nos municípios, a Alesc não só ajudou a costurar um acordo como pagou parte da conta. Agora, Moisés e Daniela podem cair por um pagamento obtuso cuja irregularidade nem mesmo está consolidada no TCE e no Judiciário. Claro que não será por isso, será pelo desmoronamento da sustentação política e falta de apoio popular. Os procuradores são a desculpa.
Dia desses, eu disse no Bom Dia Santa Catarina que um governo que não consegue reunir 14 dos 40 votos da Alesc sequer para sobreviver, já não governa. A semana que passou tratou de mostrar isso na prática. A retirada das propostas da reforma previdenciária por falta total de controle sobre o que seria aprovado pelos parlamentares é o exemplo exato de um governo que até existe, mas não governa.
Acertou o passo

A deputada estadual Paulinha (PDT) vestiu o traje de líder do governo Moisés na Alesc. Na sessão de terça-feira fez a defesa do governador no caso do impeachment nos mesmos flancos abertos pela defesa do governador: o ataque à reputação do autor do pedido, Ralf Zimmer, condenado por violência doméstica, e a ênfase às decisões no âmbito do MP-SC que não viram responsabilidade do governador e da vice Daniela Reinehr no pagamento da verba de equivalência dos procuradores do Estado.
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Frase da semana
As agressões recebidas nos últimos dias, respondê-las-ei no momento e no foro adequado. Não sou afeito a bravatas e aprendi desde cedo com meus pais a conjugar o verbo respeitar.
Júlio Garcia (PSD), presidente da Alesc, durante a abertura do processo de impeachment, mostrando que sabe usar a mesóclise.
Aproximação
Como primeiro-secretário da Alesc, coube ao deputado estadual Laércio Schuster (PSB) ler em plenário a íntegra do pedido de impeachment na sessão de quinta-feira. Curiosamente, foi justamente na véspera que ele teve sua primeira audiência com o governador Carlos Moisés. No primeiro ano de mandato, foi mantido isolado pelo Centro Administrativo para que o protagonismo regional ficasse com Ricardo Alba (PSL). Agora, Moisés busca aproximação – e Schuster agradeceu nas redes sociais o “primeiro passo”.
Tudo errado
Uma lição que ficou da patética tramitação da reforma da previdência na Assembleia Legislativa é de que não se leva adiante esse tipo de proposta sem condução firme do governo. O governo Moisés deixou o texto ao sabor dos deputados e sujeito a pressões corporativistas – teve que retirar o projeto sete meses depois de apresentado antes que ficasse mais caro ao Estado que reforma alguma. Na próxima tentativa, peçam dicas a Antonio Gavazzoni, que conduziu pessoalmente as reformas aprovadas nos governos Luiz Henrique (2008) e Raimundo Colombo (2015).
Concisas
– Em sua megalomania, Ralf Zimmer apontou como testemunhas do impeachment o ex-ministro Sérgio Moro e a deputada estadual paulista Janaína Paschoal, a Ralf Zimmer de Dilma Rousseff.
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– Um observador atento acredita que Moisés não tem, hoje, os 14 votos necessários para escapar do impeachment. Mas que Daniela e Júlio Garcia também ainda não tem os que precisam.
– Moisés saiu de casa. Está despachando no Centro Administrativo em vez da Casa d’Agronômica.
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