Cada eleição constrói sua história e ao final dela todos os erros dos vencedores são esquecidos e os acertos dos derrotados ignorados. Não será diferente nesta disputa pelo governo estadual que tem início agora e que promete ser diferente das que os catarinenses se acostumaram a acompanhar – e votar – nos últimos tempos. Alguns pontos de partida dessa história já podem ser apontados. Duas poderosas máquinas eleitorais polarizam a disputa, um partido tenta ser a terceira força e surpreender, uma multidão de figurantes busca nas redes sociais a chance de virar protagonista. Esse é um resumo do quadro inicial, com a chapa de 15 partidos que apoia Gelson Merisio (PSD), o grupo de nove siglas que endossa Mauro Mariani (MDB), a candidatura isolada de Décio Lima (PT) e os azarões Coronel Moisés (PSL), Leonel Camasão (PSOL), Rogério Portanova (Rede), Ingrid Assis (PSTU) e Angelo Castro (PCO).

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Isso sabemos desde a noite de domingo. Neste momento, em meio às últimas definições sobre divisões internas da chapas e nomes de candidatos a suplente de senador, as coligações começam um processo de curar as feridas causadas pelo traumático processo de afunilamento de candidaturas que levou Esperidião Amin (PP) e Paulo Bauer (PSDB) a desistirem de disputar o governo e aceitar vagas de senador na chapas de Merisio e Mariani, respectivamente. As bases ainda assimilam as decisões, embora os candidatos a deputado estadual e federal respirem aliviados.

As últimas três eleições catarinenses fugiram da regra histórica de eleições imprevisíveis, com blocos semelhantes se enfrentando em disputas de muita rivalidade. Foi a concertação de Luiz Henrique da Silveira, que uniu emedebistas, tucanos e pessedistas (pefelistas, demistas) e isolou o PP e o PT. Nesse período, aprendemos a olhar o ponto de partida eleitoral mais pelo número de candidatos a deputado e número de prefeituras de cada partido coligado do que pelo percentual dos candidatos nas pesquisas. No fim, a estrutura vencia sempre.

O fim do casamento entre PSD e MDB – litigioso, como temos visto – encerrou esse capítulo. Merisio e Mariani construíram exércitos eleitorais de porte semelhante e Santa Catarina parece estar prestes a viver a mais equilibrada eleição estadual desde 1994. Na época, quatro candidaturas de peso encararam o primeiro turno e, no segundo, Paulo Afonso Vieira (PMDB) venceu Angela Amin (PPR, atual PP) por escassos 41 mil votos.

Muita coisa mudou em 20 anos. Na história que esta eleição começa a escrever para si, existem novas condições – algumas inéditas. Com o eleitor arredio à classe política, muda a forma de pedir votos, de engajar as pessoas para um projeto. A campanha na televisão foi esvaziada pela nova legislação eleitoral quase ao mesmo tempo em que as anárquicas redes sociais se tornaram o principal meio de se inteirar sobre política. A eleição presidencial, mais fragmentada que a nossa, parece ter pouco poder de influir nos resultados locais como aconteceu outras vezes. Prepara-se, leitor, para uma eleição diferente este ano. Ao contrário de 2006, 2010 e 2014, é difícil dizer de antemão quem vai ganhar essa disputa.

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