Com direito a três voltas ao redor da figueira da Praça XV de Novembro, um dos símbolos de Florianópolis, o senador Jorginho Mello e o vereador Pedrão Silvestre confirmaram que o PL é o destino do pré-candidato a prefeito que anunciou semana passada a saída do PP. O gesto não é por acaso: antiga tradição florianopolitana recomendava as voltas na figueira como forma de garantir casamento.
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Em um dos bancos da praça, minutos antes, conversei com ambos. Com a presença dos filhos de Jorginho, Filipe e Bruno Mello, e do pai de Pedrão, Fernando Silvestre, estava sacramentada a decisão do vereador mais votado da história de Santa Catarina. Na conversa, eles explicam como foi articulação para a filiação de Pedrão ao PL, os planos de Jorginho Mello para expansão do partido e a relação com o prefeito Gean Loureiro (DEM), que teve até aqui o apoio do partido que dará suporte ao provável adversário.
Leia a entrevista com a dupla.
Pedrão: “Florianópolis tem que superar essas barreiras ideológicas entre direita e esquerda"
Vereador, o que fez o senhor optar pelo PL?
Pedrão: Primeiro de tudo, o fato de ter dentro do PL uma liberdade para seguir a minha forma de fazer política. Foi o que abriu as portas. O reconhecimento do PL, logo após eu afirmar que estava de saída do PP, com uma conversa muito respeitosa. O PL em momento algum foi tentar me tirar do PP ou abordando com convites que não ficariam legais. Respeitou meu momento. Na segunda-feira, quando publiquei que estava saindo, teve uma ligação do senador Jorginho Mello para que a gente pudesse ter um alinhamento de conversa. A partir disso, as conversas foram muito evolutivas. Eu disse como quero trabalhar, a minha maneira de fazer política e o senador disse “tu é reconhecido pela tua maneira de fazer e é por isso que estamos te convidando”.
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Jorginho: Eu disse que ele teria toda liberdade e a garantia irreversível de ser candidato a prefeito de Floripa. Isso era algo que ele precisava, era uma lacuna que ele tinha, porque ele tava manco. Quando alguém perguntava se ele seria candidato, ele dizia que queria, mas tudo no vamos ver, no veremos. Agora eu dei para ele essa garantia de que será o candidato do Partido Liberal.
Essa dúvida dificultava questões como a formação de chapa de candidatos a vereador?
Jorginho: Certeza.
Pedrão: Tudo, tudo. Vários amigos meus diziam que só ia se manifestar sobre ser candidato a vereador quando tivesse a confirmação de que eu seria candidato e por qual partido.
Jorginho: Ele vai cumprir a desfiliação dele em março, porque ele te mandato de vereador, não vai desfiliar antes. Mas já vai fazer todo o trabalho visando a candidatura de prefeito.
Cogitaram antecipar essa desfiliação?
Pedrão: Não, tem a parte legal que a gente sabe que não é legal ficar nesse disputa. Eu me elegi por uma sigla e tenho legalmente até o mês de março para fazer essa transição.
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Jorginho: A janela de filiação. Isso é o de menos, é insignificante.
Pedrão: Foi até o motivo da reunião de segunda-feira com o PP, quando eu falei que ninguém tem o direito de roubar o sonho de ninguém. Dentro da família Amin, o João (Amin, deputado estadual) tem o sonho de ser candidato a prefeito. Eu não vou roubar o sonho do João de ser candidato, assim como ele não vai roubar meu sonho de ser prefeito. Foi quando me levantei da reunião, disse muito obrigado a todos e anunciei minha saída na frente de toda a executiva. Tenho um respeito enorme pelo PP, foi ali que comecei minha carreira política. Tive muita autonomia.
Jorginho: Ele saiu pela porta da frente e entrou pela porta da frente.
O que significa para o PL essa aquisição?
Jorginho: É uma demonstração de que o partido está consolidado em Santa Catarina, tem candidato na Capital. E um candidato que vai vencer as eleições, um candidato competitivo. Não é candidatura de brincadeira, é candidatura para vencer as eleições. Significa a afirmação do partido, estamos preparados para fazer uma bela eleição ano que vem. Vamos eleger prefeitos de muitas cidades, vereadores. Estamos fazendo nominatas, dando cursos de formação política. Estamos preocupados com a qualidade dos políticos que estamos produzindo para administrar os bens públicos. Hoje está muito difícil. A política está mudando, não tem mais como esconder nada. Tem que estar plugado com a sociedade.
Na Câmara, seu trabalho como vereador é alinhado à oposição ao prefeito Gean Loureiro (DEM), o que o aproxima dos vereadores dos partidos de esquerda, PSOL, PT e PDT. Como será esse diálogo? Alguns deles pode estar contigo na eleição?
Pedrão: A porta vai estar sempre aberta. Florianópolis tem que superar essas barreiras ideológicas entre direita e esquerda. A cidade está limitada, e não pode continuar, a esse discurso “eu sou de esquerda, você é de direita, temos que brigar”. A cidade abraça a todos. Temos perfis de espaços urbanos da cidade que são ocupados por um tendência ideológica voltada para um lado ou outro. Isso é o somatório de Florianópolis. Quero fazer uma cidade em que eu possa unir a todos.
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O PL, ainda como PR, estava na coligação que elegeu Gean Loureiro. Participou do governo, Filipe Mello foi secretário da Casa Civil. O líder do governo na Câmara é do PL, embora esteja já entregando o posto. De outro lado, Pedrão fez oposição a Gean desde o primeiro dia. Não há uma contradição aí?
Jorginho: Não tem, porque nós ajudamos o prefeito Gean de forma muito honesta e sincera. Ele sabe disso. Agora nós estamos fazendo o projeto político e partidário nosso. Isso é legítimo. Isso não tem contradição nenhuma. O Renato (Geske, líder do governo na Câmara) ajudou o governo, o Filipe Mello ajudou o governo. De forma desapaixonada. Pensado em fazer um bom governo. Agora temos um projeto político-partidário, temos um candidato. Daqui para a frente quem vai dar a batida é o Pedrão. Eu vou dar respaldo, mas ele vai dar o comando.

No racha do PSL, o PL acabou se aproximando dos chamados bolsonaristas, os dissidentes que pretendem acompanhar o presidente Jair Bolsonaro na criação do Aliança. Pedrão não é um bolsonarista. Haverá alguma dificuldade nesse convívio?
Jorginho: Nada.
Pedrão: A cidade é formada de muita gente. Eu quero pegar as pessoas sensatas para apoiar nossa candidatura. Não quero nenhum extremista. Se algum extremista vier com aquele linguajar, aquela prática de briga, de rivalidade, ele não combina com nosso projeto. Nosso projeto é de união. Queremos encontrar solução para os problemas, não solução para chegar ao poder.
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Jorginho: Evidentemente, não existe espaço político vazio. Como o governador Carlos Moisés (PSL) se afastou do presidente da República, acha que se elegeu pelas qualidades pessoais que ele tem também, não posso negar, eu aproveitei esse vácuo. O PL vota no governo, ajuda o Bolsonaro, eu quero que o governo dê certo, as pessoas precisam voltar a ter confiança em quem está administrando. Como diz o Pedrão, chega, vamos parar de dar pedrada. Eu estou fazendo isso. Claro que o apoio da família Bolsonaro para mim é muito importante. Tenho bom relacionamento com os representantes do PSL que deixaram de apoiar o governo estadual, tenho amizade com o presidente, com o Eduardo (Bolsonaro). Não tem porquê (não estar junto), já que estou ajudando o governo, o meu partido é mais fiel no Senado.
Nesse período em que o Aliança está em formação e existem dúvidas se ficará pronto a tempo de participar das eleições municipais, o senhor emprestaria a legenda PL para candidaturas bolsonaristas?
Jorginho: Candidaturas que fechem com o nosso pensar, sem dúvida nenhuma. Já estamos trocando figurinha.