Carlos Moisés da Silva, o comandante da inicialmente improvável vitória do PSL na disputa pelo governo do Estado, ganhou nas urnas este domingo uma honra e uma responsabilidade a mais do que seus antecessores. Nunca antes os catarinenses deram tamanho aval a um governador eleito: 71% dos votos válidos, 2,64 milhões de votos.
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Colocar essa votação em perspectiva histórica impressiona. Antes, a maior votação atingida por um candidato eleito foram os 1,81 milhão conquistados por Raimundo Colombo (PSD) em 2014, quando foi eleito em primeiro turno. Toda a lógica e tradição da política catarinense foram soterradas pela votação de Carlos Moisés, herdeiro local da onda que levou o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) à presidência do Brasil.
Praticamente desconhecido no mundo da política até ser indicado candidato a governador pelo PSL nas convenções de julho, Moisés encarnou o desejo do eleitor catarinense por mudanças profundas na política – mesmo que venham através de uma candidatura improvisada na última hora, por um partido sem história no Estado, vinculada ao voto nacional.
O primeiro turno já mostrou o tamanho desse desejo, não só ao colocar Moisés no segundo turno com mais de 1 milhão de votos – ultrapassando o tradicionalíssimo MDB -, mas ao eleger bancadas de outsiders do PSL para a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa. A força da onda fez Moisés passar de azarão a favorito no segundo turno.
Merisio tentou se apresentar como alguém preparado para governar e disposto a mudar a lógica de uma política viciada em ocupação de espaços na máquina pública. Talvez funcionasse contra um candidato de um grande parte partido em uma eleição normal. Confrontado a Moisés e à onda PSL, no entanto, Merisio tornou-se ele próprio o rosto da velha política. A diferença de votação entre eles, cerca de 1,5 milhão, já foi suficiente para eleger governadores do Estado – é mais do que Esperidião Amin (PP) recebeu em 1998, por exemplo.
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O desafio do governador eleito é do tamanho de sua votação. Moisés prometeu uma redução drástica em cargos nomeados, privilegiar os servidores de carreira nas principais funções do Estado, despolitizar a máquina pública. Como fará isso e como a velha política vai reagir às mudanças serão os próximos capítulos desta história.
Voltando à perspectiva histórica, Moisés é uma novidade na política catarinense talvez só comparável à Colombo Salles – eleito indiretamente em 1971 em uma tentativa do regime militar de enfraquecer as oligarquias Ramos e Konder Bornhausen. Como mudança dos atores principais da política estadual – com nomes desconhecidos assumindo posições importantes e antigos caciques relegados à oposição ou para fora do jogo – talvez só se compare com a Revolução de 1930. Usei dois exemplos retirados de períodos de exceção. Moisés e o PSL fizeram história democraticamente, com o voto na urna. Isso multiplica o mérito da conquista – e aumenta a responsabilidade. Uma nova era política começa em Santa Catarina.