Faço uma confidência ao leitor: estou escrevendo esta coluna em uma cadeira colocada junto a uma tomada de energia elétrica no salão verde da Câmara dos Deputados e o relógio ainda marca 15h27 de sexta-feira.

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Neste momento, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (MDB-AL) são favoritos para vencerem as disposta pelo comando da Câmara e do Senado, enquanto os catarinenses sabem há algumas horas – ou meses – que Júlio Garcia (PSD) é o presidente da Assembleia Legislativa.

A diferença básica e clara das três disputas não o número de eleitores e nem o poder de cada caneta. É o voto secreto ou aberto.

Em Santa Catarina, a disputa pelo comando do Legislativo é aberta desde os anos 2000.

Não há disputa no voto entre dois ou mais deputados estaduais desde 2001, quando Onofre Agostini venceu Jorginho Mello em um confronto acirrado que terminou nos tribunais. É o tipo de confronto que se parece com estas disputas de Brasília, que avançaram a sexta-feira com conversas de bastidores, promessas e jogadas de gabinete.

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Maia integra um amplo bloco partidário suficiente para lhe garantir a reeleição em primeiro turno. Passou o dia da eleição ouvindo sobre o crescimento da candidatura do mineiro Fábio Ramalho, cujo MDB integra o bloco de Maia.

Entre as promessas de última hora do emedebista, fazer valer o aumento salarial dos ministros do Supremo também para os deputados federais. Ramalho cresce no voto secreto e na multiplicidade de candidaturas. A fala corrente no salão verde é de que Maia deve ganhar no primeiro turno, mas que se houver segunda votação o cenário complica para o demista.

No salão azul do Senado o jogo é mais obtuso. Todos sabem que o polêmico Renan Calheiros só ele elege presidente do Senado pela quinta vez se o voto for secreto. Seus adversários, o catarinense Esperidião Amin (PP) entre eles, tentam forçar a abertura da votação. Outros lutam para que os candidatos afunilem as candidaturas em torno de um único anti-Renan.

Agora, 15h41, Davi Alcolumbre (DEM-AC) seria o mais forte para o posto. Único remanescente da atual mesa diretora, caberia a ele comandar a posse dos senadores eleitos e dar início à disputa da mesa – incluindo a análise do pedido para votação aberta. Nos bastidores, Renan luta contra e não luta sozinho. O dia será longo em Brasília.

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O cenário das três disputas deixa claro o quanto o voto secreto é nocivo aos parlamentos, o quanto torna o jogo político suscetível a artimanhas, a espertezas. Não se trata de achar que não existem conchavos e ofertas indevidas nas eleições abertas da Assembleia. Mas o diálogo é feito em outro tom.

Ao esconder seus votos, o Congresso expõe suas entranhas e mostra o quanto ainda ouve pouco o que diz as ruas, apesar da altíssima renovação de nomes. São 15h51 do dia 1º de janeiro de 2019: já passou da hora de acabar com o voto secreto dos parlamentares.