Esperidião Amin atende o telefonema e antes de qualquer pergunta, dispara:
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– Vai ser 3 a 1. Você quer um prognóstico, não quer?
Um dos muitos candidatos a presidente do Senado, cuja eleição acontece na sexta-feira, logo após a posse dos parlamentares, o experiente pepista brincava ao relacionar as expectativas de uma longa semana de negociações Brasília e a do clássico Avaí e Figueirense, que aconteceria poucas horas depois da nossa conversa. Avaiano, Amin demonstrava otimismo nas quatro linhas do gramado – onde o Figueirense venceria por 1 a 0. Fora do campo, foi mais precavido nos prognósticos.
Essa precaução tem fundamentos sólidos. O Senado vive uma de suas mais complicadas eleições para presidência – não à toa apresentam-se oito candidaturas até agora, o que se for confirmado será o maior número de postulantes desde a redemocratização.
O número de candidaturas vem embalado pela onda de renovação pela qual passou a política brasileira nas eleições de outubro e um sentimento de evitar uma nova eleição do senador Renan Calheiros (MDB-AL) para comandar a instituição. Nas bolsas de aposta, ele surge como favorito. Ao notório ex-presidente, surgem reações até no próprio MDB – que tem Simone Tebet (MDB-MS) como candidata alternativa.
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A reações externas já são também visíveis, especialmente nas redes sociais. Poucos nomes representam tanto o que se convencionou chamar de “velha política” como Renan. Poucos representam tão fortemente o que passou a ser considerado emedebismo, essa capacidade de manter-se atrelado ao poder seja quais forem os atores a habitar o Palácio do Planalto. Eleger Renan, hoje, é quase uma provocação à sociedade brasileira.
Amin é um dos que tentam absorver esse sentimento. Defende um Senado independente em relação ao governo Jair Bolsonaro (PSL) e que pratique democracia interna – distribuindo melhor entre nomes e partidos, por exemplo, relatorias de projetos importantes. Quer fazer do Senado o palco das discussões sobre os pacto federativo e sobre o socorro aos Estados insolventes – a lista só aumenta.
O pepista sabe que sua candidatura depende de diálogo com os demais postulantes que têm perfil semelhante. Ele admite que nesta segunda-feira será realizada uma conversa com alguns dos candidatos, preferiu não explicitar quais, para construção de um caminho comum. Não quer ser visto como um anti-Renan, mas teme que a recondução do emedebista alagoano faça do Senado o alvo preferencial do sentimento antipolítico ainda muito forte no sociedade.
– Não podemos deixar que o Senado vire a Bastilha.
A queda da Bastilha, fortaleza medieval utilizada como prisão, foi um dos episódios centrais da Revolução Francesa, em 1789. O local tornou-se símbolo de opressão e poder da nobreza, embora não tivesse mais do que sete prisioneiros ao cair. Não é a primeira vez que falo de símbolos neste espaço.
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Na vida prática, o peso da Câmara dos Deputados deve ser maior nos próximos meses, especialmente com as discussões da reforma previdenciária. Lá, no entanto, a recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) enseja menos paixões. Renan é símbolo, o Senado comandado por ele seria encarado e combatido como uma fortaleza da velha política.