Toda proposta que afeta o serviço público está sujeita a pressões e protestos. Interesses ideológicos e corporativos se enfrentam, muitas vezes aos gritos. É do jogo. O prefeito florianopolitano Gean Loureiro (PMDB) sabia disso que decidiu apostar no projeto que autoriza o uso de Organizações Sociais (OS) em creches e unidades da saúde – uma forma de tentar cumprir as promessas da campanha eleitoral sem aumentar os gastos com folha, já no limite. Tanto sabia que tentou se antecipar, com visitas à imprensa e uma exagerada campanha publicitária que conclamava as pessoas a pressionarem os vereadores pela aprovação da proposta.

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Assim como aconteceu com o pacotão de projetos analisados pela Câmara em janeiro de 2017, primeiro mês da gestão peemedebista, Gean recorreu à força política para aprovar uma pauta polêmica com o mínimo de discussões. Já dá para considerar um estilo, pelo uso reiterado. Aprovar uma proposta em tramitação mais do que acelerada, com a Câmara sitiada por sindicalistas e militantes de esquerda, a Guarda Municipal e a Polícia Militar usando gás lacrimogêneo, todo esse circo parece ter virado parte do processo legislativo. Não é.

Espalhados pelo Brasil e por Santa Catarina, existem bons e maus exemplos de uso de OS no serviço público. O que costuma separar uns de outros são legislações e contratos bem-feitos. O projeto votado em urgência urgentíssima em um sábado de feriado, com portas fechadas, é mais um cheque em branco dado a Gean pelo Legislativo. O terceiro já, levando em conta o pacotão de janeiro de 2017 e a transformação da ex-estatal de coleta de lixo Comcap em autarquia em julho daquele ano. Mais uma vez, o prefeito de Florianópolis se vale mais da esperteza política do que da capacidade de diálogo.

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