Assim que o governador Carlos Moisés da Silva (PSL) encerrou a leitura da tradicional mensagem de reabertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa, foi inevitável a comparação com o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Foram pouco mais de seis minutos, em tom pouco mais do que genérico, apresentando pouco mais do que expectativas de um governo que dá seus primeiros passos.

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Há diferenças, é claro. Carlos Moisés abriu a fala antecipando que seria breve e que cada um dos 40 deputados estaduais receberia um pendrive com a íntegra da mensagem.

O foco do discurso estava na perspectiva de mudanças na máquina pública a partir da reforma administrativa que será encaminhada ainda em fevereiro para o parlamento. Segundo Moisés, “mudança significa mais qualidade na gestão”.

Ainda sem dar mais detalhes sobre a reforma administrativa, Moisés citou como exemplo de medidas que estão dentro do espírito das mudanças a nova formatação da Secretaria de Segurança Pública – comandada por um colegiado no lugar da figura do secretário – e a criação da Controladoria Geral do Estado, esta parte integrante do texto que será apreciado pela Assembleia.

Mais do que a fala, chamou atenção na breve cerimônia a relação espontânea de Moisés com os parlamentares de vários partidos. Do jovem liberal Bruno Souza, do PSB, à experiente petista Luciane Carminatti, o governador parou para conversar no plenário, colocou-se à disposição. Também presente, o secretário Douglas Borba (PP), da Casa Civil, também se mostrou solícito com parlamentares de diversas correntes.

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Líder do governo, o coronel Onir Mocellin (PSL) mostrava otimismo sobre a relação com os parlamentares, embora diga que não é possível calcular o que seria uma base governista neste momento. Talvez nunca seja, sem o uso dos instrumentos habituais de construção da maiorias – cargos comissionados e distribuição de verbas a prefeituras das regiões de influência dos parlamentares. É momento de novos códigos, de discursos mais breves, de pendrives.

Na prática, o reforma administrativa é um teste a esse novo modelo de relação com o Legislativo. Nem mesmo Luiz Henrique da Silveira (MDB) e Raimundo Colombo (PSD), a bordo de amplas consolidadas bases governistas – o pessedista chegou a ter 31 dos 40 formalmente a seu lado – conseguiram fazer suas reformas administrativas ou ajustes na máquina passarem pela Assembleia como chegaram. Muitas vezes, a amplitude de base de apoio teve efeito contrário e ideias importantes para a gestão acabavam engavetadas antes de remetidas para não criar fissuras no próprio grupo governista – que acabava se tornando um fim em si mesmo.

Uma curiosidade sobre esta terça-feira foi um aparente aproximação de discurso entre o governador e o presidente da Alesc, Júlio Garcia (PSD). Na fala, Moisés deixou de lado os termos velha e nova política para citar “a boa política”. Ao chegar, disse que “agora todos somos do Partido de Santa Catarina” – uma frase recorrente do pessedista.